Que bom que as pessoas passaram a enxergar o carro de maneira mais divertida. Ainda são poucos modelos e não custam barato, é verdade, mas é interessante notar que o jeitão sisudo de alguns automóveis parecem contaminar seus ocupantes. Não quero ficar aqui a filosofar, mas o carro tem essa função de expressar nosso sentimento. Encontre uma picape 4×4 ou um SUV com insul-film e invariavelmente você vai ver gente abusada e arrogante. Claro, não é regra, mas o que esperar de alguém que usa um gigante de 2 toneladas para ir até a padaria? O dono quer se impor em relação a outros mal-educados e mostrar que ele está marcando seu território.
Isso é um exemplo e existem outras centenas. Agora, o que esperar um motorista a bordo de um Cinquecento ou mesmo de um Smart? Dá para ficar mal-humorado ao ver um carrinho todo colorido como esse? É de desarmar qualquer espírito e foi o que ocorreu em nossas andanças pelo Rio de Janeiro a bordo do Fiat.
Efeito parecido já fazia o New Beetle há alguns anos, afinal como querer parecer sisudo dentro de um carro que tem até vaso para flores… Estiquei esse texto para dizer que não dá para avaliar um modelo como o Cinquecento pelo seu motor, desempenho ou mesmo preço e expectativa de vendas. Quem compra um carro como ele não está nem aí se o 0 a 100 km/h é pior alguns décimos de segundo que o concorrente.
O que vale é a diversão e o status de andar num carro pequeno, mas personalizado ao extremo e cujos detalhes surpreendem a cada minuto.
Primeiro porque ele é muito pequeno, não tanto quanto o original, este sim um espanto. Para que vocês tenham noção, a distribuição de espaço lembra demais o Ka antigo. Na frente um bom espaço, mas atrás a coisa é mais restrita. Ironia do destino, o novo Ka europeu é justamente um 500 da Ford.
Andamos primeiro no modelo Sport manual, o mais em conta e discreto. Ao entrar no carro, lembrei-me do PT Cruiser: aquela sensação de carro meio futurista meio vindo do passado. A posição dos instrumentos e comandos são relativamente diferentes de carros comuns. Você encontra a alavanca de ajuste de altura do banco do lado dentro, próximo do freio de estacionamento, o que me fez puxá-la por engano umas três vezes.
O quadro de instrumentos pegou a ideia do Fox, da Volkswagen, mas fez a lição direito. No centro vai o computador de bordo e outras funções auxiliares; no aro central fica o conta-giros e no externo o velocímetro. É confuso num primeiro momento mas faz sentido depois.
O volante tem a parte superior mais alta, justamente ao contrário do que equipa o Civic, por exemplo, mas é prático. No console central, tudo bem dividido: rádio na parte superior, ar-condicionado no centro e manopla do câmbio na parte debaixo como numa minivan. Ah, sim, ali também estão os comandos do vidro elétrico, aliás, um dos poucos botões de qualidade discutível.
Boa visibilidade
Embora pequeno (são apenas 2,30 m de entre eixos), o carro “veste” bem e a visibilidade é muito boa exceto na traseira – o espelho retrovisor é pequeno e atrapalha um pouco o para-brisa para pessoas mais altas. Mas em outras direções, tudo claro, auxiliado pelos grandes retrovisores.
O câmbio de seis marchas é nossa primeira boa surpresa. O escalonamento é agradável e a direção elétrica nem se compara a que equipa o Stilo, por exemplo. É direta e bem balanceada. Saímos para nosso passeio pela orla da Baía de Guanabara e logo a suspensão do 500 explicou suas intenções. É dura como a de um esportivo.
O motorzinho 1.4 16V é uma delícia. Responde de pronto a cada troca de marchas e num carro leve como esse nem precisa de turbo como seu irmão Punto. O ruído é áspero até demais, mas não dá para argumentar afinal o carro tem essa característica esportiva.
As rodas aro 15 apóiam bem e o 500 incita a pisar no acelerador, mas o trecho do test-drive não permite abusos. Em resumo, um carrinho divertido de guiar e de estar a bordo. Por bem ou por mal, quase não lembra um Fiat. A marca só deu uma escorregadinha em alguns itens como nas hastes do limpador e dos faróis e nos botões de ajuste do espelho elétrico – são oriundos de modelos mais baratos e não combinam com o status requerido pelo 500.
Isso foi o Sport, um Cinquecento divertido mas até discreto. Dali fomos para o Lounge com câmbio Dualogic e, em seguida, para o manual. Na versão mais cara do 500, as possibilidades se ampliam. Além das rodas com desenho exclusivo, o Lounge vem o teto de vidro fixo, item que poderia ser de série em todos já que areja o pequeno cockpit.
O interior pode ser configurado com tantos padrões de cores e tecidos que parece que cada carro é exclusivo. É como se o 500 vestisse diversas peças de roupa. O que testamos tinha uma padronagem xadrez bem com cara de anos 60.
Entre os equipamentos há o ar digital e os bancos com porta-objetos no assentos, além de retrovisores cromados. O painel tem outro grafismo, mais confuso, e os plásticos podem vir em outros tons, inclusive branco, como o que andamos. É como se fosse outro carro.
Mas aí cruzamos com o câmbio Dualogic, o único senão dos pacotes. Toda agilidade do modelo manual se perde com o sistema de embreagem automatizada de cinco marchas. Ele vem com paddle-shift, o que compensa um pouco, mas no geral deixa a desejar em relação ao câmbio tradicional. Não pensaria duas vezes em comprar este.
A Fiat preparou uma frota bem eclética para test-drive a fim de mostrar as possibilidades de configurações. Perguntamos à eles se por ser importado essas opções não ficariam muito restritas ou se os clientes não teriam de esperar seus carros chegarem de navio. A resposta foi que agora o mix é bem diverso e que depois, conhecendo o gosto do brasileiro, eles reduzirão a variedade.
Prepara-se para ver uma boa quantidade deles pelas ruas, inclusive em cidades em que a Smart e a Mini não fazem muita questão: a Fiat venderá o carrinho em 150 concessionárias pelo país.
O mais curioso é que o Cinquecento será o primeiro Fiat de muita gente já que ele deve ter clientes mais abastados que possuem carros mais caros – como a marca italiana não trabalha em segmentos superiores, os atuais donos de Fiat serão minoria.