É fato: nunca se viram tantos carros importados nas ruas brasileiras. Para cada três nacionais vendidos hoje, há uma venda de veículo importado no país, segundo dados da Anfavea. De acordo com a estatística da entidade, a participação chega a 23,5% do total, a mais alta dos últimos anos.
Mas será que essa “invasão estrangeira” é tão preocupante assim, como faz crer a entidade e o próprio governo? Foram cerca de 75 mil veículos em maio, mas a maior parcela é de modelos montados nos “parceiros” Argentina e México. Pior: apenas 25% foram trazidos pelas marcas importadoras filiadas à Abeiva. Ou seja, o grosso é importado pelas próprias montadoras “nacionais”, como alguns leigos se referem aos fabricantes que produzem no Brasil.
Sim, seria um desastre para elas – e ótimo para o consumidor – se a pornográfica alíquota de importação fosse bem menor que os atuais 35%. Imagine se esse acréscimo fosse suprimido do preço do Picanto: o hatch compacto da Kia custaria R$ 25.000 cheio de equipamentos, mantendo a margem da marca e pagando o custo do frete da Coreia até aqui. E o Chery QQ, então? Sairia por menos de R$ 17.000 nas mesmas condições. E isso porque disse a matéria do Joel Leite que a montadora chinesa foi “aconselhada” a não baixar tanto seu preço assim.
Como disse no post sobre a convivência pacífica entre Anfavea e governo, ninguém viu medida alguma que vislumbrasse reduzir o preço dos carros no Brasil. Apenas preocupações em otimizar a produção, modernizar as fábricas e baixar os custos com insumos.
Joel Leite, aliás, citou uma frase do presidente da Anfavea Cledorvino Belini que precisávamos elevar o patamar de produção para baixar os preços. Eu escutei isso dele numa entrevista: bastava chegar 3, 4, 4,5 milhões, algo assim, para que a indústria brasileira conseguisse reduzir os preços e até agora nada. Afinal de contas, somos “apenas” o 5º maior mercado de automóveis do mundo. Quem sabe, se passarmos a China um dia, Gol e Uno custarão menos de R$ 20 mil…