Pretendia escrever uma rápida avaliação, mas, depois de dirigir o Peugeot 408, resolvi compará-lo com o Renault Fluence, outro sedã médio que andei há poucas semanas. Os dois franceses têm muito em comum: são argentinos, derivados de hatches famosos na Europa, mas, principalmente, têm a missão de apagar a má impressão causada pelos antecessores 307 Sedan e Megane II.
Talvez má impressão seja errado porque ambos tinham virtudes, mas não caíram no gosto popular e isso é praticamente “caixão e vela preta”. Há mais semelhanças: os dois abandonaram seus nomes antigos mesmo tendo parentesco com eles e também beberam da fonte asiática. Enquanto o Renault tem desenho coreano e powertrain japonês o Peugeot foi bolado na China (o que não é novidade já que 307 Sedan e C4 Pallas também vieram de lá) embora a montadora diga que a filial brasileira tenha participado do trabalho.
Mas as coincidências acabam aí. Ou melhor, começam justamente pela fonte asiática. A Renault foi mais esperta ao unir o design coreano ao motor e câmbio da Nissan.Aliás, o design é outro ponto curioso. Lembro de ter me empolgado mais com o 408 no Salão do Automóvel e ter achado o Fluence pequeno. Mas basta lembrar que o Peugeot estava num pedestal enquanto seu rival não tinha nenhuma produção no estande.
Ao vivo, o Fluence impressiona mais. Parece e é imenso. O 408 é maior, sim, mas o que mais chama a atenção é o cockpit elevado. Em termos de proporção, o Renault é mais harmonioso mas discreto, já o Peugeot aparece mais, porém, mescla farois grandes com lanternas pequenas. Sim, é “n” vezes melhor que o 307 Sedan, mas não tem a elegância do belo e falecido 407, para citar um exemplo.
Continuando no visual, o interior do 408 é uma mistura de 307 com 3008. Todo preto, ele é extremamente previsível e repetitivo nas versões mais baratas – a Griffe ainda usa o rádio e o GPS do Aircross, além de um volante com uma pegada melhor. Já a Feline, que também andamos, é um festival de deja vù: seja no volante, no computador de bordo, no rádio, nos puxadores, na manopla do câmbio e por aí vai.
O Fluence não empolga no interior, mas ele é bem mais arejado, em tons de cinza típicos de carros japoneses. O painel, quase idêntico ao do Mégane III, é simples e minimalista, mas peca pela dispersão de botões – alguns atrás do volante, outros no console e até o acionador do piloto automático atrás do câmbio. A sensação, no entanto, é de estar num carro grande, que é reforçada pelo ar digital dual zone de série e pelos seis airbags, também disponíveis em qualquer versão.
E aí está outra vantagem do Renault: sua lista de equipamentos é mais generosa pelo preço de R$ 64.990, Dynamique com câmbio CVT, certamente a que venderá mais. O Peugeot 408 custa R$ 64.500 na versão Allure automática e traz apenas dois airbags e ar simples sem falar que sua direção hidráulica nem se compara à elétrica do Fluence. A contrapartida é o piloto automático completo.
Claro que o Peugeot 408 tem méritos. Um deles é que seu espaço interno é, de fato, maior que o do Fluence, principalmente na vertical. Fato: o GPS do Peugeot recolhe e é mais fácil de ser usado já que está integrado ao carro, ao contrário do Renault que é operado por um chato controle remoto. Para completar, a Peugeot manteve as dobradiças pantográficas no porta-malas em vez do “pescoço de ganso” do Renault – que, aliás, tem sido usado até por gente grande como BMW.
Mas a diferença é maior mesmo pelo comportamento dos dois. Se os dois motores são relativamente equivalentes, o câmbio CVT do Fluence dá um banho no ainda ruim automático de quatro marchas do 408. A Peugeot diz que mudou e até chamou o equipamento de “novo”, mas continua um ponto negativo na marca. Com uma 2ª marcha perdida, o sedã demora a embalar e não tem a agilidade de respostas do Renault, graças ao sistema CVT. Como dissemos, a direção elétrica do Fluence também é muito mais direta que a hidráulica do 408 e em matéria de suspensão, nova vantagem do Renault. Mais confortável e com isolamento acústico melhor, ela não inclina tanto quanto se imagina nas curvas, ao contrário da suspensão do 408, que continua a bater duro no chão, apesar do melhor isolamento de ruídos.
Em resumo, o Fluence fez a lição de casa para parecer um japonês, coisa que os coreanos sacaram antes e agora começam a ditar tendências. Já o 408 é um 307 melhorado e nada mais. É verdade que parte do sucesso dos japoneses vêm do pós-venda impecável, uma preocupação que as duas francesas mostram querer resolver, mas nada é mais importante que um bom produto. Nesse aspecto diria que a Renault tem a tarefa de não deixar o Fluence virar um Mégane II Reloaded. Já a Peugeot… dá para parar a linha de montagem e colocar o motor THP 1.6 e o câmbio automático de seis marchas do 3008 antes de começar a vender o 408?
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