Sem dúvida, um dos mais esclarecedores artigos sobre o preço absurdo dos carros. Assim vejo a matéria que o colega jornalista Joel Leite publicou ontem em seu blog no UOL. O texto tenta jogar luz sobre um assunto obscuro e que é protegido a sete chaves pelas montadoras instaladas no Brasil, a margem de lucro dos veículos produzidos aqui.
Joel desmente que a causa do preço alto dos carros vendidos e, principalmente, produzidos aqui seja a carga tributária, ou, numa visão mais abrangente, o tal “Custo Brasil”. Pelo seu levantamento, trata-se do “Lucro Brasil”.
Para tentar desmistificar esse discurso das fabricantes, o jornalista cita um estudo do IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, que aponta que o carro nacional paga em torno de 30% de impostos como um todo, um valor alto, sem dúvida, mas que não justifica o preço tão diferente que se encontra lá fora.
A matéria mostra como o exemplo o Honda City, o sedã compacto que a montadora japonesa vende aqui como médio. No México, para onde é exportado, o City custa apenas R$ 25.800. Isso mesmo, menos da metade do valor no Brasil, que é de R$ 56.210. Joel faz um cálculo simples, mas extremamente revelador: a Honda fica com R$ 20.300 desses R$ 25.800 do preço do City no México, isso porque R$ 3.500 é o frete e R$ 2.000 é a margem da concessionária.
Ou seja, R$ 20.300 seria o custo real do City produzido no Brasil. Mesmo aplicando os cerca de 30% de impostos, o sedã não poderia custar mais que R$ 41.000, mas sai para o consumidor brasileiro por R$ 15.500 a mais, isso considerando a margem da concessionária. Nada menos que 27,6% de margem de lucro!
O artigo de Joel só não explica uma coisa que faria muita diferença na transparência dessa suposta margem gritante de lucro: montadoras com capital aberto. Nenhuma das marcas que atuam aqui têm capital negociado na bolsa, como elas mesmas fazem em outros países. Isso faria com que os resultados fossem divulgados com regularidade e aí certamente saberíamos como o consumidor brasileiro ajuda a sustentar as matrizes dessas empresas.
Que esse artigo seja o começo de um movimento por preços mais justos no Brasil.
Atualizado às 00h11 do dia 29/06 – Joel Leite publicou a segunda parte da matéria – que terá uma terceira parte nesta quarta. Eis o link: