É verdade que a competição no segmento automobilístico cresceu nos últimos anos e que os carros vendidos no Brasil melhoraram de padrão. Também é verdade que o preço dos veículos no País caiu nos últimos oito anos (cerca de 8%) contra uma inflação acumulada de 51% nesse período. Mas isso tornou barato comprar um carro brasileiro? Não, segundo um artigo do jornal O Estado de São Paulo.
A matéria mostrou que alguns produtos industrializados no Brasil custam muito mais que em outros países. Detalhe: sem incluir na conta os impostos, um dos principais vilões da distorção. A outra parte está associada à infraestrutura ruim, baixa produtividade e, principalmente, à margem de lucro alta.
O Estadão pediu que entidades experientes “dissecassem” os custos do carro brasileiro que compõem os preços desses produtos e constatou que a margem de lucro é o dobro da média mundial e três vezes maior que a americana, isso no segmento automobilístico.
Tudo isso porque a indústria prefere vender menos e ganhar mais do que faturar o mesmo com uma produção maior. Esse raciocínio foi confirmado por Miguel Jorge, ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e que foi diretor da Volkswagen. Ou seja, alguém que conhece os dois lados dessa moeda.
Para alguns dos analistas ouvidos pelo jornal, falta concorrência no Brasil, apesar das 50 marcas que atuam hoje no mercado. Não é à toa que a indústria automobilística, 99% formada por empresas estrangeiras, tem remetido lucros ao exterior em volumes bilionários – US$ 4,1 bilhões em 2010, US$ 5,6 bilhões em 2011 e US$ 2,4 bilhões no ano passado, quando foram obrigadas a investir mais no Brasil.
Fenômeno local
Para ajudar a deixar o bolso de montadoras e governo mais cheios, o mercado de automóveis está aquecido, o que permite abusar na margem de lucro. Segundo um especialista ouvido pelo jornal, o brasileiro aceita pagar R$ 40 mil num carro popular, o que não deveria fazer.
Bem articuladas em sua associação de classe (a Anfavea), as montadoras pressionam o governo a cortar impostos do carro brasileiro assim que o consumo cai ou quando os veículos importados conseguem ficar mais competitivos, mesmo com alta carga de importação.
A simulação que o jornal fez mostra como exemplo o Corolla, sedã da Toyota que é vendido em condições semelhantes no Brasil, México e Estados Unidos. Enquanto nesses dois países, o modelo XLi custa R$ 23 mil e R$ 25 mil, respectivamente, no Brasil o Corolla tem preço sem impostos de R$ 35 mil, mais de 50% superior aos outros dois países. Com o acréscimo de impostos, o preço final do Corolla chega R$ 36 mil no México e R$ 32 mil nos EUA. Aqui, o Corolla não sai por menos de R$ 60 mil, ou quase 100% a mais.
Veja também: Qual marca de automóveis é a maior no Facebook?
O câmbio, culpado preferencial do governo e dos fabricantes, não seria a única razão para tamanho disparate, conclui a matéria. Como se vê, nessa matemática cruel, governo, fabricantes e o comércio ganham e o consumidor paga o pato, melhor dizendo, o foie gras, aquela iguaria francesa feita do fígado do pato e que custa horrores.
Confira a página oficial do BlogAuto no Facebook.