Se não me engano, li isso na revista Exame. Era algum comentário sobre o livro de um desses visionários do mundo empresarial que dizia que todo império um dia cai. Melhor dizendo, a liderança faz mal às empresas. Se é isso que ele quis dizer, concordo plenamente. As empresas que chegam ao topo acabam relaxando e quando acordam é tarde.
No setor de TI é assim: IBM, Microsoft e até o Google perderam a majestade depois de atingir o cume. Estão bem no mercado, mas já não têm mais aquela imagem audaz. No nosso setor, os tropeções de GM e Chrysler são grandes exemplos, sobretudo da primeira, que viveu anos apenas preocupada em ser a maior e não a melhor.
Enquanto isso, as japonesas, com seu planejamento, passaram direto, caso específico da Toyota. Mas o mundo mudou e hoje o que se vê é que vence o mais ágil e antenado e nesse aspecto tanto a Toyota quanto a Honda parecem perdidas.
Lembram da crise financeira de 2008? As duas se assustaram tanto que resolveram encerrar seus projetos na Fórmula 1 e cortar custos. Mas erraram ao atrasar ainda mais as pretensões de crescimento em mercados emergentes como o Brasil – até então, os Estados Unidos eram o “El Dorado”.
Coreanas são o presente, chinesas, o futuro
Aqui no Brasil, as duas montadoras ainda têm um prestígio imenso que deve se manter por mais tempo, mas acredito piamente que elas terão papel de figurante dentro de alguns anos.
A Honda, por exemplo, acertou no primeiro Fit e na ousadia de recriar o Civic em 2006. Mas com o Fit II mostrou que estava mais preocupada em ganhar dinheiro que fazer um carro excepcional – de econômico, o modelo recebeu críticas pelo consumo e pelos problemas de emissão de poluentes.
Aí veio a tacada mais polêmica: lançou o City, uma versão sedã do Fit que custa quase o mesmo que o Civic. Pode ser que ela ganhe mais dinheiro com ele, mas na prática, a empresa andou de lado: as vendas do sedã foram tiradas do irmão maior.
Nada disso se compara aos problemas atuais. Claro que o terremoto no Japão foi uma fatalidade, mas mostrou que a empresa não é tão global assim, preferindo manter a produção de partes vitais centralizadas na matriz. Num ano como este em que todos estão se mexendo, a Honda ficará sentada, olhando a concorrência passar por ela. E sabe-se lá se o novo Civic honrará o atual.
Já a Toyota teve outro problema, em que pesou o lado político. Os seguidos recalls que queimaram sua imagem só foram provados em parte como culpa da montadora, mas a rejeição geral foi imensa nos EUA, seu mercado até então querido.
No Brasil, a marca faz a festa entre os sedãs e no mercado de picapes médias, mas é só. Teve a brilhante ideia de entrar no mercado de compactos mas demorou tanto para dar luz verde ao projeto que a Hyundai, mesmo com os imbróglios com o governo, já tem sua fábrica mais adiantada e deverá lançar o HB antes do Etios.
Por falar nele, a foto acima, do blog Indian Cars Bikes me causou uma sensação pessimista. É esse o carro que a Toyota quer colocar para enfrentar o Gol, o Uno e Palio? Com esse visual morno, duvido que faça algum estrago na categoria como também pago para ver quanto ela cobrará por ele e o que oferecerá de série se hoje ela tem coragem de pedir quase R$ 90.000 por um sedã médio.
Posso estar errado, mas o tempo das japonesas passou. Quero dizer, elas continuarão por aí, fazendo carros respeitáveis, mas não serão protagonistas, papel que hoje as coreanas assumiram e que deverão passar para as velozes chinesas, acreditem ou não.