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Ford lucra na América do Sul pelo 30° trimestre seguido

Marcos Oliveira, presidente da Ford

Não é invenção, não. Está no relatório financeiro da Ford divulgado nesta terça-feira. A região onde fica o Brasil dá lucro há nada menos que sete anos e meio sem intervalos. Uma leitura mais próxima dos poucos dados é extremamente reveladora.

Os dados referem-se ao 2° trimestre de 2011 e estão reunidos por regiões: América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia-Pacífico-África e “outros automotivos”. Com isso, é impossível determinar quanto cada mercado significa em lucro ou prejuízo para a Ford. A empresa não tem obrigação de abrir essas informações, como já dissemos aqui anteriormente.

Mas alguns cálculos permitem reflexões. Vamos deixar de lado a região que reúne Ásia, Pacífico e África, que, segundo a Ford, passa por reformulação e não tem números tão significativos já que a China não consta desse balanço.

Europa

A Ford faturou, ou seja, ganhou de maneira bruta, 9 bilhões de dólares no continente, com um lucro de 176 milhões de dólares. Ou seja, sua margem foi de apenas 2%. Cada carro vendido na região teve preço médio de 21,3 mil dólares e deu um lucro de 417 dólares. Em outras palavras, um resultado fraco. A Ford apontou os custos de produção e commodities, além dos estoques dos concessionários, pela queda no lucro.

América do Norte

Principal mercado da Ford,claro, a região faturou 19,5 bilhões de dólares entre abril e junho. O lucro cresceu para 1,9 bilhão, ou seja, quase 10% de margem. Foram vendidos 736 mil veículos, 10% a mais que em 2010. O preço médio dos carros foi de 26,5 mil dólares e o lucro por unidade foi de 2,6 mil dólares. A Ford ainda lamentou o aumento nos custos por conta dos investimentos em novos produtos, o que é real.

América do Sul

Como dito no título, a nossa região é lucrativa há muito tempo, mas a Ford reclamou que os ganhos caíram por culpa da inflação e do aumento dos custos. A montadora faturou 2,9 bilhões por aqui e lucrou 267 milhões de dólares, muito mais que na Europa. Para isso vendeu 135 mil carros por uma média de 21,5 mil dólares e ganhou 2 mil dólares em média por cada um.

Olhando dessa maneira, já dá para constatar que:

1 – nossa região dá lucro parecido com o de regiões mais desenvolvidas, embora tenhamos carros mais antigos e menos equipados.

2 – o lucro por aqui já foi maior ainda.

3 – a Ford fatura em média o mesmo que na Europa, mas lá precisa lançar modelos mais cedo para manter-se competitiva.

Brasil

Sim, não é possível dizer quanto o Brasil participa nesse resultado, mas podemos fazer alguns cálculos. Dos 135 mil veículos vendidos na América do Sul, 81,6 mil foram emplacados no Brasil, ou 60% do total.

Desses 40% que sobram a Argentina responde pela metade das vendas, ou 27,1 mil veículos. Juntos, os dois países detém mais de 80% das vendas da Ford no continente.

Mas há uma diferença bastante interessante:

* enquanto um Fiesta nacional custa R$ 34.770 no Brasil ele sai por R$ 23.560 na Argentina (48% a menos)

* enquanto um New Fiesta sedã sai por R$ 50.700 no Brasil ele custa R$ 31.600 na Argentina (58% a menos)

* enquanto um Focus hatch básico tem preço de R$ 54.250 no Brasil ele é vendido por R$ 32.150 na Argentina (69% a menos)

O que podemos concluir com isso? Que dos 2,9 bilhões faturados pela Ford na América do Sul, com certeza absoluta, o Brasil representou bem mais que os 60% obtidos nas vendas. Como a montadora fatura em números absolutos bem mais aqui não é absurdo dizer que a receita no Brasil é superior a 2 bilhões de dólares (ou 69% do total). Apostaria que é maior que isso.

Aí chegamos na famosa “caixa preta” do lucro. A Ford lucrou 267 milhões de dólares no total e se não houvesse diferenças entre custos, preços e margem de lucro, o Brasil teria participado com 160 milhões de dólares.

Vamos dar um voto de confiança para a empresa, então. Se o Brasil representa 2 bilhões de faturamento e lucra hipotéticos 160 milhões, teremos um preço médio por carro de 24,5 mil dólares, o mesmo que os EUA e cia e uma margem de lucro ainda respeitável de 8%.

Agora, e se imaginarmos que o Brasil não só traz mais dinheiro bruto para a Ford, mas também lucra mais que no resto da região? Nada garante que outros mercado deem prejuízo e o Brasil os compense, por exemplo. Digamos que tivéssemos 240 milhões de lucro por aqui e uma receita de 2 bilhões: a margem de lucro pularia para 12%, a maior do mundo.

Que conclusão podemos tirar disso? Que o Brasil certamente dá lucro, a despeito do chororô das montadoras. Que as fabricantes têm uma postura diferente no Brasil na hora da dificuldade. É mais fácil reclamar da infraestrutura, dos impostos, do câmbio e outros aspectos a buscar soluções que beneficiem o consumidor.

Mesmo com resultados ruins na Europa, lá as montadoras estão investindo em novos produtos, assim como nos EUA, mercado que está saturado há tempos. Já aqui, a última novidade da Ford foi o Ka de 1996 reestilizado.

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