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Fernando Calmon – Aplicativos de rotas ainda erram feio

As recentes enchentes em várias cidades brasileiras, provocadas por chuvas muito acima do normal e grandes erros de projeto da malha viária ou falta de manutenção das vias pluviais chamaram atenção para os graves problemas de mobilidade urbana do Brasil.

No caso específico de São Paulo, com a maior população e frota de veículos do País, que ficou literalmente paralisada por várias horas e em algumas regiões por mais de um dia, ocorreu outro episódio surpreendente. No dia de interrupção total das duas maiores vias expressas da cidade, quem procurasse o caminho para o aeroporto internacional de Guarulhos recebia um tempo de viagem surreal de 43 minutos informado pelos dois principais aplicativos de rotas alternativas, Waze e Google Maps. Esse é o tempo em feriados, domingos ou horários longe do pico.

Desconcertante foi a resposta das duas empresas. Alegaram “apenas desenvolver ferramentas colaborativas que se baseiam nos alertas dos usuários para estabelecer quais pontos das rotas das pessoas estão afetados por incidentes”. Waze acrescentou ainda que troca informações com órgãos públicos. Rádios e TVs de livre acesso, porém, mostravam tudo ao vivo…

Em plena era de desenvolvimento da inteligência artificial, trata-se de algo classificável como desinteligência artificial. Não é crível algoritmos deixarem de detectar problemas, naquele dia e horário, quando milhares de veículos deveriam estar circulando pelas duas vias com inevitáveis longos e enervantes congestionamentos. Com a interrupção de trechos por horas isso teria de ser considerado de alguma forma e não indicar trânsito leve.

Embora os dois aplicativos sejam de uso gratuito, as rotas incluem várias inserções publicitárias que, em teoria, deveriam dar suporte mais do que suficiente para ao menos garantir um nível primário de inteligência artificial. Sempre é bom lembrar que São Paulo é a cidade com maior número registrado de usuários da plataforma Waze no mundo.

O caso lembra o truque que enganou o sistema do Google Maps em Berlim, capital alemã, no início deste mês. Com um carrinho de mão e 99 celulares ali armazenados, o artista Simon Wreckert circulou calmamente puxando sua “carruagem de fogo” e conseguiu esvaziar quase completamente uma via da cidade. A iniciativa foi irresponsável por provocar congestionamentos em outras ruas.

A brincadeira de mau gosto do alemão repercutiu aqui e fica claro que algo precisa ser feito para aperfeiçoar os programas de rotas alternativas. Os dois aplicativos citados prestam, sem dúvidas, relevantes serviços e já livraram milhões de usuários em todo o mundo de milhares de horas perdidas no trânsito. É recurso válido para melhorar a mobilidade urbana, reduzir poluição e gasto extra de combustível.

Também vale relembrar os esforços para evitar áreas mais perigosas em cidades sujeitas à violência. Waze, por exemplo, fez um bom trabalho, iniciado no Rio de Janeiro e depois estendido a outras capitais, ao mapear locais sensíveis e evitá-los ao indicar outros caminhos.

Nada, porém, justifica o erro flagrado em São Paulo e que poderia ter acontecido em qualquer outra cidade do Brasil ou do mundo.

ALTA RODA

Fernando Calmon

fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2

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Fernando Calmon – Aplicativos de rotas ainda erram feio

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