Dois fatos recentes chamaram minha atenção a respeito da Volkswagen. Primeiro foi uma enquete que fizemos aqui no Blogauto em que perguntamos aos leitores qual marca mais respeita e qual mais desrespeita o consumidor. A Hyundai, mais por culpa do grupo CAOA, ficou em primeiro lugar entre os menos preocupados com seus clientes na opinião dos leitores e a VW em segundo, quase empatada com a coreana. É um resultado ruim se pensarmos que a montadora alemã ficou muito à frente de outras marcas grandes como Fiat, Ford e GM e isso sem nenhum fato gritante como ocorre com a Hyundai e seus anúncios polêmicos.
Há poucas semanas, a perda momentânea da liderança do Gol para o Uno mostrou uma aparente apatia da Volkswagen ao deixar o rival histórico quebrar um tabu de anos. Não é só. Tem chamado a nossa atenção nas últimas semanas a sequencia de press-releases que a montadora envia com assuntos secundários sobre meio-ambiente, parcerias com o terceiro setor e outros. Produtos, por outro lado, viraram raridade. Fox Bluemotion, Amarok automática e outros menores foram as “novidades” em 2012. Enquanto isso, a concorrência despeja mais e mais produtos em segmentos em que ela já foi líder, inclusive, caso dos hatches médios.
É verdade que a Volks ainda é a vice-líder do mercado com boa vantagem para a Chevrolet, mas suas vendas dependem demais do Gol que respondeu por quase 40% das vendas em abril, isso numa marca que tem praticamente 20 modelos em seu portfólio.
Causa estranheza também a falta de uma direção na empresa em relação ao Brasil. Se mostrou coerência ao lançar o Gol G5 e seus derivados Voyage e Saveiro num bom intervalo de tempo, a marca agora demora em ampliar e modernizar esses produtos para fazer frente aos rivais – a mudança de meia idade do hatch deve chegar em agosto apenas. Outros modelos pequenos, no entanto, continuam em linha sem grandes perspectivas, caso do Polo e velhinha Parati. A exceção nesse segmento é o Fox, que melhorou como produto e hoje tem uma boa participação no mix.
O problema mesmo está nos segmentos mais caros. A VW se resumiu a lançar o Jetta no mercado, um produto que a fez aumentar sua participação, mas aquém do que se imaginava, talvez pelo fato de a versão 2.0 ser tecnicamente inferior aos inúmeros sedãs do mercado. O Tiguan, que chegou extremamente caro ao país, passou a ter um preço mais acessível que fez suas vendas crescerem, mas o advento do IPI extra acabou com seus planos. Mesmo a Amarok, uma picape elogiada pelo pacote tecnológico, não chega nem perto das vendas de Hilux e S10, para citar dois exemplos. Já a linha de luxo não decepciona, mas pouco acrescenta aos números de vendas.
Perda de espaço
O grande drama da Volks, no entanto, é a dificuldade com que reage às mudanças do mercado. O segmento de hatches médios, que foi dominado pelo Golf por muito tempo, continua sem uma definição clara. Rumores sobre um sucessor para o velho Golf 4 surgem todos os anos sem que nada aconteça. A marca também vê várias concorrentes entrando no mercado de crossovers compactos enquanto ela ignora essa mina de ouro, mesmo com o CrossFox mostrando o potencial desse público.
Até mesmo o projeto do compacto barato up! já começa a virar um pesadelo. Enquanto a Fiat já definiu sua fábrica em Goaina, PE, a Volks sofre pressão de sindicatos para ampliar as fábricas do Sudeste. Se e quando sairá pouco se sabe. Curioso é que no exterior a marca alemã tem outra postura. A montadora tem ampliado sua atuação pelo mundo e hoje possui boa presença na China e cresce nos Estados Unidos, inclusive com uma nova e moderna planta no estado do Tennessee. Não é difícil que ela se torne mesmo a maior montadora do mundo em breve, mas a participação da filial brasileira dá pinta que não será tão grande como deveria.