Nenhum número de vendas ou mesmo uma explicação de como fará para bater o surpreendente i30, da Hyundai, foi dada pela Ford hoje no lançamento da versão 1.6 Flex com motor Sigma, mas a montadora disse com todas as letras que o Focus será líder entre os hatches médios. “2010 será o ano do Focus”, disse Antonio Baltar, o gerente de marketing e produto da Ford.
A confiança da marca reside no bom pacote de equipamentos, na garantia de 3 anos, no custo baixo de manutenção e no fato de o Focus ser um dos poucos carros do segmento atuais. Mas a meta não será fácil: o hatch 1.6 continua com as versões GL e GLX, mas a primeira ficou muito mais cara e equipada – sai por R$ 49 900.
Agora sabe o que a Ford disse quando perguntamos qual versão ela acha que venderá? A GLX com ABS, por R$ 52 400, apenas mil reais a mais que a GLX comum. Ou seja, a marca perderá representatividade na faixa de R$ 42 mil a R$ 48 mil, onde hoje atuam o Astra e o Stilo Attractive.
De fato, o Focus traz alguns itens pouco comuns a categoria como rodas de liga leve aro 16, volante com revestimento de couro e sistema de som com CD player e MP3, entre outros detalhes.
O painel, por exemplo, manteve o visual requintado do Focus 2.0, mas a Ford fez pouco caso dos paineis laterais da porta onde predominam o plástico e a falta de cromado nas maçanetas, para citar um aspecto.
Motor leve, mas desempenho modesto
Mas nada chamou tanto a atenção dos jornalistas quanto o motor Sigma, o tão esperado e falado projeto com bloco, mancais e pistões em alumínio. Até mesmo a inauguração da linha de montagem em Taubaté contou com a presença do governador de São Paulo, José Serra, testemunhada por nós.
A impressão, no entanto, foi de incredulidade. Mesmo com toda a modernidade, que inclui ainda coletores de plástico, comando duplo de válvulas e quatro válvulas por cilindro, o motor produz apenas 2,6 cv (álcool) a mais que o Zetec Rocam com cabeçote único e oito válvulas.
Uma hipótese levantada pelo jornalista Fernando Calmon é de que o Rocam estava no limite de seu potencial enquanto Sigma nem chegou a ter extraído seu limite. Linus de Paoli, supervisor de engenharia da marca, não chegou a contestar a afirmação. Mas, então, ao menos o consumo deveria ser melhor. Pois não é, como mostramos ontem no post anterior.
A conclusão a que chegamos é que a Ford ficou mais preocupada com a durabilidade do motor e não explorou adequadamente o que tem em mãos. A marca admitiu, inclusive, que esse projeto pode ser desenvolvido e receber, por exemplo, comando variável. A outra constatação é de que o Rocam poderia ter problemas para se enquadrar nas normas de emissão de poluentes que entrarão em vigor no futuro.
Dirigibilidade irretocável
Pelo menos uma coisa a Ford tem razão: o funcionamento do Sigma é suave e de respostas vigorosas. Claro, não tem a sobra do Duratec, mas a disposição é bem maior que no Rocam antigo. O bom escalonamento do câmbio também favorece o uso tanto na cidade quanto na estrada – a 120 km/h ele aponta 3 400 rpm sem que o ruído do motor invada a cabine.
O conjunto é reforçado pelo eficiente acelerador eletrônico e pelo câmbio IB5, mais preciso e de trocas mais justas que o do Focus 2.0. A suspensão independente continua a ser outro ponto forte do carro: filtra imperfeições e mantém o carro estável como poucas fazem.
Sobre os equipamentos, a ressalva é que o novo rádio da Visteon (no lugar do Sony do 2.0) não oferece bluetooth, recurso já comum em carros mais baratos.
O Focus já flerta com as primeiras posições do segmento e a versão Flex deve ajudar nisso. Passar o Golf e outros modelos mais desatulizados não deve ser um problema. Agora superar o i30 aí será um feito complicado de se conseguir. Vamos ver se 2010 será o ano do Ford ou do Hyundai.