Já opera na disputada Rua Colômbia, em São Paulo (SP), a primeira concessionária da Morris Garage, ou simplesmente MG. A loja tem disponível o cupê MG 6 e o sedã médio MG 550, que custam R$ 99.789 e 94.789, respectivamente. Originalmente ingleses, os dois modelos são fabricados na China desde 2007, quando o grupo SAIC (um dos maiores na China no ramo de carros) comprou a marca. Então eles são chineses? São e não são ao mesmo tempo.
Confesso que nunca vi um automóvel fabricado na China tão bem acabado e aparentemente bem construído – não vi nenhuma rebarba no interior ou falhas de encaixe pela carroceria. Até o cheiro da cabine, por causa dos assentos revestidos de couro, é bom. Diferente do odor de pura química dos plásticas usados em alguns de seus conterrâneos à venda no Brasil. Entrei nos carros e quando fechei as portas notei que o isolamento acústico é dos bons e também me senti confortável nos bancos. Não parece chinês.
Mas o visual dos veículos, ao meu ver, pareceu um tanto “achinesado”. Na loja estavam expostos também os modelos MG 350 e o MG 750 – ambos chegam até o final deste ano acompanhados ainda do compacto “descolado” MG 3 – e o curioso é que cada carro parece ter uma identidade visual própria. Não há semelhança entre grades, desenho de faróis e lanternas, interiores… Cada MG é de um jeito, não existe um padrão ou um detalhe marcante presente em todos os modelos, fora o logotipo. Mas isso não os torna feios. O MG 6, aliás, ao vivo é um automóvel bem bonito.
Durante a inauguração da concessionária conversei com o Hairton Ponciano Voz, editor da Revista Auto Esporte, que já testou o MG 6 em pista e deu lá suas andanças com a máquina. Ele gostou do carro, tanto a parte visual como também o desempenho. E esse cara entende, viu. Os dois carros da MG à venda no Brasil compartilham o mesmo conjunto mecânico, que é composto pelo motor 1.8 turbo de 170 cv a 5.500 rpm e 21,9 kgfm de torque entre 2.500 rpm e 4.500 rpm. Já o câmbio é automático de 5 marchas com comando sequencial por borboletas atrás do volante. Segundo o press-release da marca, o MG 550 atinge 270 km/h. Rápido, não?
Os dois Morris também vêm totalmente recheados de equipamentos. A lista inclui teto solar, seis airbags, diversos sistemas eletrônicos de segurança (ABS, EBD, BAS, CBC…), freio a disco nas quatro rodas, rodas de alumínio aro 17″, e por aí vai. Outro destaque é a suspensão independente na traseira para em ambos. Esse item é algo digno de marcas premium como BMW e Mercedes-Benz, justamente alguns dos alvos da divisão nacional da MG. “Nosso carros têm preço de Hyundai e GM, mas o nível de qualidade é de carro alemão”, jurou de pé junto Juarez de Souza, o presidente da operação da marca no Brasil.
Agora se realmente os veículos da MG encostam em produtos da BMW e Mercedes-Benz – no caso o Classe C e Série 3 – aí já é outra história. Precisamos acelerar os carros para crer. Os preços, ao menos, são convidativos para a qualidade aparente dos lançamentos..
Morris who?
Em 1924 William Morris, que construía com as próprias mãos e ferramentas carros em sua garagem, decidiu levar seu dom mais a sério e investiu na construção de uma fábrica. Deu certo. A marca foi sucesso total no Reino Unidos nos anos 20 e 30, quando ficou conhecida também por bater uma série de recordes de velocidade com diversos carros experimentais, que ficariam conhecidos como as Flechas da MG – em 2008 vi algumas dessas “baratas” em um museu na Inglaterra (foto abaixo). Essa fama rendeu a Morris Garage o tão disputado selo de qualidade da família real da Inglaterra, o que é motivo de muita pompa no país.
No entanto, com o passar dos anos a concorrência no mercado britânico aumentou com a chegada de mais marcas, em especial estrangeiras do restante da Europa e logo em seguida veio a Segunda Guerra Mundial, que levou Morris a falência, assim como diversas outras fabricantes locais. A marca acabou salva pelo governo, que posteriormente a liberou para continuar seu caminho em parceria com a Austin. E assim a MG seguiu até 1994 quando acabou adquirida pelo Grupo BMW.
Mas a MG voltaria a apresentar maus resultados de vendas, o que forçou a BMW a descontinuar as atividades da fabricante na Inglaterra em 2004. A salvação veio no ano seguinte com investimento do grupo chinês Nanjing Automobile (comprado pelo grupo SAIC em 2007, também da China), que desmontou a fábrica da empresa no interior da Inglaterra e a transportou de navio para a China, onde os carros passaram a ser produzidos sob controle de qualidade do ingleses. Ao menos é o que diz a propaganda.