Olha, vai soar nacionalista e tal, mas é quase uma constatação: brasileiro como presidente de montadora resolve. Pensei nisso depois de ver a americana Grace Lieblein ser anunciada nova presidente da GM do Brasil. Ou seja, contra a vontade de muitos, a empresa continuou a não confiar num funcionário brasileiro tal função.
E mesmo com ótimos nomes na empresa – na Argentina e na Venezuela temos brasileiros à frente do negócio. Aí resolvi conferir quais marcas estão bem no Brasil e quem as dirige:
1 – Fiat: Cledorvino Belini – embora tenha assumido a marca já como 1ª colocada no país (obra de italianos, é verdade), Belini virou referência no setor e é respeitado por funcionários e fornecedores. Até uma comissão com sistemistas ele criou para discutir os rumos da empresa.
2 – Ford: Marcos de Oliveira – assumiu a Ford já recuperada, nesse caso, graças ao carisma de Antonio Maciel que até comercial fez. Mas Oliveira é outro executivo que goza de prestígio de seus comandados. Vou até contar um caso particular aqui: no ano passado estava embarcando para os Estados Unidos e coincidentemente o presidente da Ford estava no mesmo voo. Para minha surpresa, Marcos viajou na classe econômica, de terno e gravata e ainda trabalhou boa parte do voo. Detalhe: era sábado de madrugada.
3 – Hyundai: Carlos Alberto de Oliveira Andrade – sim, ele é polêmico e exagera nas propagandas da marca coreana, para dizer apenas alguns detalhes. Porém, não dá para ignorar que ele fez a Hyundai virar dor de cabeça para montadoras mais antigas e maiores no Brasil.
4 – Kia: José Carlos Gandini – sem os abusos do grupo CAOA, Gandini também foi perseverante em tornar a Kia uma marca reconhecida no Brasil, depois de anos de Bestas e de ostracismo. Ouvi isso de um irlandês recém chegado ao Brasil na semana passada: “mas vocês gostam de Kia aqui, hein? Nunca vi tantos na rua”, disse um amigo vindo de Dublin.
5 – BMW – Henning Dornbusch – Apesar do nome alemão, Henning é carioca. O presidente da BMW promoveu uma verdadeira revolução na marca alemã, antes apagada na gestão do alemão Andre Muller Carioba. Hoje a BMW vende quase mil carros por mês, sem falar que seus modelos ganharam versões mais acessíveis, ao menos para uma parcela dos consumidores.
6 – Audi – Paulo Sérgio Kakinoff – prodígio da Volkswagen, Kakinoff estava na Alemanha quando a Audi o convidou para um desafio: tirar a filial brasileira da posição de figurante no mercado premium. Depois da sua chegada, há dois anos, as vendas duplicaram embora o próprio executivo reconheça que ainda há muito por fazer.
7 – JAC – Sérgio Habib – ex-presidente da Citroën, Habib foi responsável por dar a marca francesa um prestígio que nem na França ela tem, o de vender carros premium. Agora o brasileiro filho de franceses lançou-se num projeto mais ambicioso: transformar a desconhecida chinesa JAC numa das marcas mais vendidas do Brasil. Pelo que mostrou até aqui, a ambição parece possível.
Foram os que lembrei no momento. Enquanto isso Volkswagen, GM, Renault, Peugeot, Honda e Toyota patinam nas vendas e sofrem para ganhar espaço no mercado. Claro, ninguém aqui está acusando Thomas Schmall (VW) e cia de incompetentes, mas é nítido que a falta de familiaridade com o mercado brasileiro atrapalha o trabalho de estrangeiros. Existem (e devem existir) exceções mas algumas montadoras poderiam quebrar esse tabu, sobretudo as grandes.