Pronto, o presidente da Anfavea “explicou” de maneira definitiva porque o carro brasileiro custa o dobro que no México. Simples assim: o Honda City é banana no Brasil e abacaxi no México. Ah, agora entendi, sr. Belini, o consumidor brasileiro é o banana que paga muito mais por um produto feito em seu quintal, mas basta exportar que o preço cai.
“Faz sentido”: veja só, quando o City vai para o México o “salário do funcionário é mais baixo”, o aço “custa menos”, os “fornecedores ficam mais generosos”. Só assim para “explicar” a diferença. Ah, não, havia esquecido, Belini garante que o problema é o câmbio.
Claro, como não pensamos nisso antes. Como nossa moeda está valorizada, fica barato importar produtos de países em que a moeda tem valor menor que o nosso. O México dos abacaxis, por exemplo.
O glorioso Ford Fusion, produzido lá, tem preço sugerido no México de R$ 51,5 mil na versão SEL 2.5, mas no Brasil ele custa na tabela R$ 83.600, “apenas” 62,3% a mais – preços finais, com custo de produção mexicano (mais barato, segundo a própria Anfavea), impostos embutidos e margem de lucro da montadora e das concessionárias.
Sendo assim, o Honda City produzido no Brasil (e símbolo do abuso ultimamente), cuja moeda vale 7,5 vezes mais que a mexicana, custa R$ 28.800 no México e R$ 57.420, ambos na versão LX. São 99,4% pagos a mais pelo cliente brasileiro por um produto brasileiro!
Olha só que coisa brilhante e mágica: um produto brasileiro (City) consegue ser mais barato no México que um produto mexicano (Fusion). Mas como diz a Anfavea, é culpa do câmbio: não importa a direção que o produto tome, o Brasil sempre leva pior…
À parte a ironia acima, se a Anfavea tivesse razão, o City – e nenhum veículo brasileiro – poderia ser exportado já que nossa indústria não seria competitiva com uma moeda tão valorizada. Mas esse pretexto não cola afinal importamos veículos com preço competitivo da Coreia (Won a R$ 0,0014), da China(Yuan a R$ 0,24), da Alemanha (Euro a R$ 2,23) e dos EUA (Dólar a R$ 1,56). Claro que os coreanos e chineses têm vantagem, mas como BMW, GM, por exemplo, conseguem trazer modelos maiores e mais sofisticados com valores próximos ao que cobra a Toyota pelo Corolla Altis, um dos nacionais mais caros do mercado?