Não foi apenas um simples facelift. O novo Pajero TR4 2010 foi o maior trabalho de recriação de um modelo que a MMC, a representante da Mitsubishi no Brasil, já fez até hoje. A marca japonesa apresentou nesta quarta-feira o SUV para os jornalistas especializados, incluindo o Blogauto. Confira a seguir nossa primeiro contato com o modelo.
Segundo o diretor de engenharia da montadora Reinaldo Muratori, “apenas o teto é igual ao do TR4 2009”. Conversamos com o executivo que nos contou como foi o trabalho de desenvolvimento do utilitário esportivo, feito 100% no Brasil. “Não foi fácil porque os japoneses são resistentes a grandes mudanças”, nos revelou Muratori.
“Foi em uma visita ao Japão que levei um estudo com fotos de uma maquete do TR4 que imaginamos. O pessoal da Mitsubishi gostou e quis vir ao Brasil conhecer, mas o carro ainda não existia. Mesmo depois de aprovado, a equipe de design da matriz ainda deu palpites em algumas áreas, como na ampliação do logo na frente do carro”, nos disse o diretor.
Melhorar o desempenho do motor foi outra novela, confessou Muratori. “Desde a época do desenvolvimento do primeiro motor flex do TR4 queríamos melhorias, mas a Mitsubishi não concordou”. Ele conta que os japoneses perguntaram o que o motor deles tinha de pior em relação a concorrência. A resposta foi a taxa de compressão, de 9,5:1, muito baixa para aproveitar melhor o álcool. Quando os brasileiros disseram que existiam motores com até 13:1 de compressão em nosso mercado, a Mitsubishi se assustou. Mesmo assim, um engenheiro prometeu novidades no futuro e cumpriu ao ajudar a desenvolver o novo motor, com 140 cv de potência e 22 kgfm de torque, ambos usando álcool.
Dirigindo o TR4 2010
E o TR4, afinal de contas, melhorou? A resposta é sim. No aspecto visual, o utilitário esportivo impressiona – parece que ele já nasceu assim, fruto da extensão do facelift, que não deixou quase marcas do estilo do passado. Os faróis são sim derivados do que foram usados no extinto Airtrek, mas ficaram bem elegantes. A Mitsubishi tirou vincos das laterais para suavizá-lo e substituiu a tampa do porta-malas, embora a tenha mantido com abertura do lado esquerdo, ideal para o mercado japonês. A frente segue o DNA do Monte Fuji, o vulção inativo perto de Tóquio. Por isso o formato triangular.
Por dentro, as mudanças foram grandes também, mas os traços do passado ainda são claros. A divisão do painel, por exemplo, ainda entrega essa herança, mas novo painel de instrumentos e um console central redesenhado arejaram o ambiente. O tom azulado dos mostradores lembra da L200 Triton, assim como o volante. O rádio double din está em linha com os mais modernos ao oferecer além do CD e do MP3, conexão para iPod, USB e Bluetooth.
O espaço interno é outro item que denuncia a idade do TR4, na verdade, nascido como iO e vendido no Brasil desde 1999. Mas a posição de dirigir é mais natural se comparada a do Pajero Sport Flex. Andamos com a versão automática, com preço de R$ 71 990 e que mantém o mesmo câmbio de 4 marchas além da tração 4×4 com 4 posições: 4×2, AWD, 4×4 bloqueado e 4×4 reduzida.
O percurso do test-driver foi feito na chuva em trechos de asfalto e em estradas enlameadas, mas não o ponto de ser necessário o uso da tração reduzida. Mesmo com a melhoria do torque e da potência, o TR4 não tem a agilidade que se imagina. Em retomadas, o tempo de resposta foi razoável apenas, sobretudo em velocidades mais altas. A Mitsubishi não divulga dados de desempenho, o que dificulta comprovar isso.
Em trechos urbanos ou mesmo na terra, o TR4 é um carro agradável, de direção direta e escalonamento das marchas adequado no anda e para do trânsito. Mais que isso e então as dificuldades aparecem.
Com cara de novidade
O dilema desse segmento é muito claro. Para vender muito, é preciso criar um crossover como o Tucson, por exemplo, que tem cara de off-road, mas características de automóvel. A Mitsubishi confessa que não se identifica com esse tipo de proposta -tem até o Outlander na linha, mas que ficará mais distante da família Pajero. Seus produtos têm DNA de fora-de-estrada e com o TR4 isso não é diferente. Mas, como disse um funcionário da marca, “já são 50 mil clientes do TR4 no Brasil. Ele quer continuar com o carro, mas buscava algo novo. Agora ele tem”.