“Lúdico” é hoje um termo recorrente no setor automobilístico. Nessa época de veículos com proposta divertida ou minimalista, o termo virou moda para definir essa lado “criança” de alguns carros. Confesso que era essa a minha expectativa quando soube que iria avaliar o smart Fortwo, o pequenino carro do grupo Mercedes que chegou a ter seu futuro posto em xeque mas que voltou a ter destaque após a crise financeira.
Porém, para minha decepção, não vi nada de divertido no carrinho. Ainda mais porque a Smart cobra por ele um valor de carro premium, coisa que ele definitivamente não é. Pelo contrário, é praticamente um meio de locomoção urbana, ao menos na versão MHD, menos potente e equipada que a normal.
Por R$ 50 mil você leva para casa um 1.0 com poucos equipamentos, espaço interno reduzido, barulhento e com acabamento simples. Ou seja, uma espécie de popular de luxo. Não é de estranhar que há boatos que a Smart deixará os Estados Unidos onde o modelo não emplacou – e onde também custa caro, a partir de US$ 11 mil.
A grande sacada do MHD, que é erroneamente chamado de híbrido, é o sistema Start-Stop que desliga o motor em situações de parada para economizar combustível e emitir menos poluentes. Pois bem, logo que assumi o volante do carro, numa sexta-feira à tarde, entrei em um congestionamento.
Sistema Start-Stop ativado, o carro “desligou”. Vidros fechados por segurança, comecei a sentir um calor imenso dentro do cockpit mesmo com o ar ligado. Claro, sem o motor o pobre ar-condicionado perdeu funcionalidade e lá se foi meu idealismo ecológico – desliguei o MHD e voltei ao mundo real. Outra coisa que me fez desistir do Start-Stop foi que no Smart seu funcionamento é muito nítido: parece sempre que o carro “morreu”, ao contrário de veículos mais sofisticados que mal se percebem as mudanças de estado.
Fã do Dualogic
Deixando de lado a novidade do MHD, me concentrei em dirigir o ForTwo e também não encontrei motivos para ser feliz. O motor dá conta do recado mesmo só aspirado, mas o ruído é incômodo vindo ali logo atrás do banco. O mais chato, no entanto, é o câmbio de embreagem automatizada. Me fez sentir saudades do Dualogic do Stilo. Engates duros no modo manual e trocas nem um pouco suaves no modo automático. Para completar, a suspensão é extremamente dura, quase um carro de competição.
A posição é boa de dirigir mas alguns botões ficam em posições ruins como os acionadores dos vidros. Ponto positivo para o controle do ar-condicionado, ao lado dos difusores, simples e prático. Por falar em simplicidade, está aí outra decepção. Para um carro de R$ 50 mil ver tantos plásticos de qualidade mediana assusta a qualquer um.
Cadê a caçamba?
Dirigir o Smart pela cidade lembra muito uma picape compacta, com a cabine com espaço reduzido. Basta um carro se aproximar atrás para você achar que o camarada está colando na traseira. Ah, é verdade, o Smart não tem caçamba e o motorista do outro veículo parece que está sentado no “banco traseiro”.
O grande diferencial do ForTwo é praticamente sua única vantagem, o comprimento de apenas 2,7 m (um Mille tem 3,7 m ou um metro a mais). Na hora de manobrar ou de encontrar uma vaga é uma delícia, ainda mais numa cidade como São Paulo. Agora pagar o preço de um Kia Cerato ou de um New Fiesta para desfrutar desse único privilégio não faz sentido.
Em que pese o fator “lúdico” eu não compro um Smart nem por brincadeira. Acredito na proposta dos veículos urbanos de dois lugares mas eles deveriam custar no máximo R$ 15 mil com os atuais impostos. Aí sim a simplicidade do ForTwo seria tolerável. Por mais que isso prefiro o velho Mille que gasta pouco, leva mais gente e não custa caro para manter.
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