A família 207 não tem nenhum representante que se impõe em suas categorias: 0 hatch tem um papel discreto no segmento, o sedã vai bem até, mas também nem incomoda os principais modelos, e a perua SW está atrás da Palio Weekend e da SpaceFox. Agora, pela primeira vez, a Peugeot terá um produto com argumentos melhores que seus rivais. A picape Hoggar poderá “falar” mais alto no quesito caçamba, dirigibilidade e, por que não, em acabamento.
Se isso vai refletir em vendas maiores, nem mesmo a própria Peugeot acredita – ela prevê apenas 1 500 unidades vendidas, 900 da versão intermediária XR e pouco mais de 400 da Escapade. Mas a Hoggar deverá agradar seus clientes: assim como a nova Saveiro, a picape da Peugeot é um automóvel na hora de dirigir, firme nas curvas, suspensão mais endurecida e boas respostas, sobretudo com o motor 1.4, acreditem.
O acabamento do painel trazido do 207 é superior ao de Strada, Montana e mesmo Saveiro, apesar de a marca francesa ter eliminado alguns itens existentes no resto da família. O rádio é comum, não há comando satélite atrás do volante nem computador de bordo – ar digital, então, nem pensar. A Peugeot quis passar uma imagem mais rústica já que 90% da clientela é masculina.
Em compensação,alguns itens são de série em todas as versões: para-choques na cor da carroceria, janela corrediça no vidro traseiro e ajustes de altura em ambos os bancos. Quem comprar a picape, no entanto, terá de pagar à parte pelo protetor de caçamba e capota marítima, vendidos como acessórios.
O aspecto geral da Hoggar é de uma picape longa e baixa. Lado a lado com Strada, ficará clara essa impressão. A caçamba é imensa e espanta ver as caixas de rodas tão pequenas. O segredo, segundo a Peugeot, são os amortecedores instalados quase na horizontal.
Escapade 1.6
Começamos o test-drive com a versão top. O visual é agradável, mas a “dentadura” na tomada de ar destoa um pouco do conjunto. A traseira, apesar de alguns detalhes exagerados, é bem interessante. O step-side é pequeno e tem um função curiosa de trocar o ar interno da cabine. No para-choque traseiro há dois apoios para os pés também.
O acabamento interno é parecido com o da perua Escapade exceto por itens mais sofisticados. A dirigibilidade é muito boa, mas o ponto negativo é o escalonamento curto do câmbio – a 120 km/h o motor gira a 3 600 rpm. Apesar disso, o isolamento acústico e bastante eficiente. Com o câmbio falando alto, retomadas acabam sendo privilegiadas, mas na estrada dirigimos sempre com o acelerador sensível a um leve toque. O preço de R$ 43 500 para uma picape cabine simples pode inibir o comprador na hora de comparar com a Saveiro e a Strada e suas cabines estendidas e dupla, no segundo caso.
XR 1.4
A Peugeot não disponibilizou picapes com lastro para entender o comportamento com carga. Uma pena já que a versão XR representa a maior parte das vendas e possui o motor 1.4 de 82 cv. Sem nada na caçamba, a picape ficou fácil de dirigir. Com 8 válvulas, o motor responde com mais vigor em baixas rotações e o câmbio é mais equilibrado, apesar de girar alto em velocidades mais altas.
A ausência de acabamento em certos detalhes internos incomoda um pouco, mas o visual externo é atraente com faróis de neblina de série e o rack no teto. As rodas são de aço, mas quase escondidas pelas calotas. Com preço de R$ 35 350, não há dúvida que responderá pela maior parte das vendas, até pelo uso misto.
A versão X-line, de entrada, só esteve em exposição e deve se transformar em mosca branca nas ruas. Apesar de mais barata, ela perde muita coisa em relação a XR.
Cabine estendida
A Peugeot negou que esteja pensando na cabine estendida para a Hoggar, mas o presidente da empresa, Guillaume Couzy, que acabou de assumir a filial brasileira, deixou escapar que existe um projeto assim. Segundo ele, “a cabine estendida não foi pensada nessa primeira fase”. Ou seja, deve estar na manga nas “próximas fases” da Hoggar.
Em suma, a picape Hoggar é um automóvel com caçamba, uma senhora caçamba. Faz muito bem o papel de carro do dia a dia e, se necessário, leva muita carga – 1 151 litros ou 742 kg na versão X-line. Agora, não custa a Peugeot rever a ausência de alguns itens, sobretudo o ABS, item que não está disponível em nenhuma versao. Quem sabe com alguns correções de rota, a Peugeot não poderá rever também as poucas 1 500 unidades planejadas como venda mensal da picape.