A Peugeot havia passado por algo semelhante quando precisou pensar no 207, o sucessor do “pop” 206. Mas a Honda teve uma tarefa muito mais difícil com o novo Civic 2012. Sim, porque o sedã na 8ª geração virou uma espécie de ícone, com suas sacadas originais e posicionamento esportivo.
Nessas horas, fica difícil escolher qual caminho seguir: repetir a fórmula ou romper com tudo e partir do zero? Infelizmente, para os fãs do carro, a Honda optou por uma terceira via, a de regredir em alguns sentidos para avançar em outros. Quis manter o visual, mas acabou com a coerência e com os diferenciais. Visto de perto, o novo Civic parece um remendo do antigo. Confesso que em onze anos no setor nunca tinha visto isso.
É verdade que o carro melhorou em relação ao antigo em vários aspectos, mas isso é, convenhamos, obrigação de qualquer montadora. Mas, para isso, perdeu seu charme. Para explicar melhor o que ocorreu com o Civic vou fazer uma avaliação um pouco diferente. Primeiro, mostrar o que melhorou, depois o que piorou.
Onde o Civic 2012 melhorou
– A geração anterior, por seu DNA esportivo, é mais dura ao rodar e o isolamento acústico, não tão perfeito assim. O novo melhorou isso bastante. Está mais silencioso e confortável sem perder o acerto mais firme. Também filtra mais os barulhos dos pisos irregulares.
– O motor está um pouco mais disposto em baixas rotações e, segundo a Honda, mais econômico, fruto de várias revisões no seu conceito.
– A visibilidade na altura da coluna A melhorou com o novo desenho. Antes havia um ponto cego imenso ali.
– O porta-malas cresceu mais de 100 litros e agora comporta 449 litros, um tamanho adequado para o carro.
– A direção elétrica está mais leve em baixas velocidades. No anterior ela ainda era pesada se comparada a alguns concorrentes.
– Comodidades. Se antes o Civic era um carro belo, mas pouco prático, agora a Honda atendeu aos pedidos dos clientes e colocou vidros “um-toque” em todas as portas, ar digital, abertura do porta-malas pela chave, computador de bordo, entradas para todos os tipos de mídia, Bluetooth (EXS), câmera de ré (que dispensou o sensor).
– Muita eletrônica. Mais inteligente, o Civic 2012 agora avisa qual porta está aberta, pode vir com um GPS integrado touch-screen, um sistema de controle de tração mais avançado, que interage até com o volante, e o principal, o sistema ECON, que economiza combustível e emissões de poluentes e que tem ainda uma interface no painel que muda de cor conforme a tocada do motorista. Se está economizando, ela fica verde, caso contrário, azul.
O que permaneceu bom
– O Civic manteve a boa posição de dirigir, a garantia de 3 anos, a suspensão traseira multilink e a direção direta.
Onde o Civic piorou
– se houve uma preocupação em reduzir o ruído vindo do exterior, o acabamento pagou o pato. Os plásticos pioraram e a parte superior do painel perdeu o emborrachamento, apenas plástico e mais plástico. As portas têm um detalhe acolchoado de qualidade duvidosa e superfície irregular.
– Funcionalidades e diferenciais foram para o buraco: abertura das portas do lado do passageiro, porta-objetos com tampa deslizante, freio de estacionamento compacto, pedal do acelerador com articulação na base, como nos carrões alemães.
– Personalidade. Quem tem Civic sabe que a 8ª geração encanta por dentro assim como acordar com a Gisele Bündchen todos os dias ao seu lado. Parece bobeira, mas o volante perfurado, a alavanca em “S” do freio de estacionamento, o painel de instrumentos inclinado para cima, o cuidado com cada botão do ar-condicionado e do rádio e as sacadas do porta-objetos do console faziam a diferença. Até as maçanetas internas, exclusivas, agora ganharam um desenho convencional, parecidos com os carros da Kia.
– Estepe. Para resolver o problema do espaço no porta-malas, a Honda eliminou o estepe comum e o trocou por um pneu de emergência, mais fino e com aro 15.
– Antes um primor de design, o painel de instrumentos virou uma “árvore de natal”. Há tantas luzes e mostradores que poderiam ter sido concentrados numa coisa só. Exemplo: se você mexe no rádio na versão EXS, que tem GPS de série, vê as informações nele e também no mini-LCD à direita do velocímetro.
– Design. Leigos vão se confundir quando verem o novo Civic nas ruas. Dependendo do ângulo, fica difícil saber quem é quem. No evento, havia um exemplar antigo e muita gente se perdeu. A maior prova que a Honda errou no design é a gambiarra colocada nas lanternas. O refletor é confissão de erro no projeto, um recurso que se usa em projetos velhos. Por dentro, parece que a equipe de design estava de férias quando o carro foi desenhado. Os elementos estão amontoados sem nenhuma ligação estética entre eles. Bastam notar o que fizeram com o espaço onde está a manopla do câmbio. Até nisso o antigo tinha algo a dizer. Agora ficou comum.
O que é novidade
– Teto solar, de série na versão EXS.
– ganchos ISOFIX para fixar a cadeirinha de criança no banco traseiro.
E o que faltou
– Retrovisor eletrocrômico. Continua sendo ignorado pela Honda
– Ar-condicionado de zona dupla. O Fluence tem desde as versões básicas.
– Abertura do porta-malas na própria tampa.
A Honda promete revelar os preços das versões do Civic nos próximos dias, talvez até mesmo hoje, mas, segundo ela, não haverá grandes mudanças. A LXS deve ficar 1% mais cara, a LXL, a mesma coisa, e a EXS, 1% mais barata.
Seguindo esse raciocínio, o Civic 2012 deve começar em R$ 67.000 na versão LXS manual (que não teve alterações) e terminar na EXS, apenas automática, por R$ 85.000. As versões LXL SE e Si morreram, aliás.
Certamente, faltou algum detalhe, mas em suma é esse o novo Civic, um carro com crise de identidade, mas que agora não passará vergonha em matéria de conteúdo perante seus rivais. Bastava apenas que a Honda tivesse dado importância para diferenciais do carro que o fizeram um sucesso na 8ª geração. Quem sabe a 10ª geração resolva isso.
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