Depois de uma maratona de avaliações andando no Uno Attractive e nas duas versões Way, medindo interior e analisando e comparando números, enfim, estamos aqui para dizer como foi a nossa impressão do modelo da Fiat. Antes de mais nada, filtramos toda a excitação provocada pela marca nesse evento, que reúne 2 mil convidados até o domingo e que conta com várias atrações para “amansar” jornalistas – vocês não fazem ideia da quantidade de profissionais aqui elogiando a empresa gratuitamente… Mas nosso foco é o carro, o primeiro lançamento da marca no segmento compacto desde 1996.
Nossa primeira constatação: o novo Uno é uma evolução do pensamento da Fiat sobre os compactos, ao contrário do Uno original, que revolucionou o mercado na época. Não era para menos. Vivíamos no começo da década de 1980 com modelos desatualizados, com raras exceções.
A Fiat diz que o novo Uno é 82% novo, mas suas dimensões são muito parecidas com as do Palio – entre-eixos, largura, dimensões do cockpit. Ou seja, seu ponto mais crítico é o entre-eixos curto, 9 cm menor que o do Gol. Um sinal disso é que a caixa de roda traseira está no caminho da porta, dificultando um pouco o acesso.
Sobre o design, certamente ele não será confundido na rua. O máximo de semelhança que encontramos foi a traseira, que lembrou de longe a do Mégane hatch da geração II, com a parte inferior da tampa do porta-malas projetada. A versão Attractive é, sem dúvida, a mais equilibrada – a Vivace “sumiu” do evento, apenas duas unidades estava disponíveis e não conseguimos dirigi-la. A Way carrega nos plásticos além do sensato, na nossa opinião.
As quatro versões – Vivace, Attractive, Way 1.0 e 1.4 – têm algumas coisas em comum e diferenças claras também. Por dentro é praticamente o mesmo visual e acabamento, embora as unidades disponibilizadas pela Fiat estejam todas carregadas de equipamentos. Em compensação, o comportamento delas é relativamente diferente – altura do carro, peso, relações de marcha, pneus e rodas são específicos em cada uma.
Uma curiosidade sobre o lançamento é que há tanto assunto novo trazido pela Fiat que até a empresa não deu conta de falar sobre tudo. O conceito Ecology, por exemplo, mal foi citado, assim como o pára-brisa com aquecimento.
Way 1.4
Foi o primeiro que dirigimos. A posição de dirigir do novo Uno não é tão elevada quanto a do Palio, por exemplo. O volante só possui ajuste de altura (como o Palio). Seu formato é muito bom, com empunhaduras bem situadas. A alavanca do câmbio tem curso longo e o mesmo comportamento da família Palio.
Nessa versão achamos o modelo um tanto “preso”: o motor 1.4 Evo continua sem muito torque para retomadas, privilegiando o consumo. O diferencial e a 5ª marcha são mais curtos que no Attractive, para compensar o maior peso e arrasto. O carro é levemente mais alto que os outros e possui pneus de uso misto.
Até agora não expliquei a razão do título e aqui vai ela. Talvez seja o ponto que mais me agradou no Uno. A impressão do interior é de um carro mais bem acabado, apesar da sua simplicidade. Os painéis das portas, por exemplo, são feitos numa única peça, mas há vários detalhes que quebram essa “monotonia”. O console também apresenta uma textura agradável mesmo sem nada de excepcional. O painel de instrumentos é outro item belo e ao mesmo tempo básico.
Os bancos possuem um acabamento de tecido com dois tipos de material, mas eis uma contradição. Enquanto atrás há encostos de cabeça do tipo vírgula na frente eles são costurados no banco. A Fiat disse que os clientes não ligaram para isso e que ele atende ao padrão de segurança.
Outra invenção curiosa da marca é o bloqueador do trilho dos bancos dianteiros. Caso você queira levar o banco mais para trás, basta tirá-lo, mas fatalmente quem tem mais de 1,80 m terá de eliminar a peça plástica. O que será que a Fiat quis com isso? Conservar o espaço para as pernas dos ocupantes traseiros? Certamente, a tal peça sumirá logo dos carros dos consumidores.
Way 1.0
Depois de esperar por quase uma hora, andamos no Way 1.0. Como dissemos, ao contrário do Way 1.4, este tem pneus e rodas iguais a do Attractive – aro 14 e pneus 175/65. Tal qual seu irmão maior, o Way 1.0 possui um câmbio mais curto, mas isso começa já na 3ª marcha.
O motor 1.0 tem um comportamento um pouco diferente do 1.4. Há um fio de torque no início da aceleração e depois a tradicional perda de fôlego. Os motores Evo, aliás, estão com a faixa de torque máximo bem altas, parecendo que têm 16 válvulas – o 1.4 precisa ir a 3 500 rpm e o 1.0, a 3 850 rpm.
Mas o carro roda mais à vontade que o Way 1.4, embora o motor grite muito para chegar a 120 km/h: cerca de 4 100 rpm contra 3 800 do 1.4. Bom, aí alguém já deve ter imaginado que o ruído a bordo estaria absurdo. Mas, surpresa, o carro é extremamente silencioso. Até mais do que se pode imaginar. Muito estranho. Você vê o ponteiro do conta-giros passando 4 mil giros e mal escuta o motor.
Perguntamos ao staff da Fiat se os carros poderiam ter sido “trabalhados” para apresentar menos ruído, prática negada pelas marcas, mas que já foi várias vezes descoberta por revistas. A marca jurou que não. Se for verdade mesmo, o Uno é excepcional nesse sentido.
Attractive 1.4
Ainda bem que deixamos para último o Attractive. É, de longe, a versão mais agradável. O motor respondeu melhor e o acabamento é mais equilibrado de todos, em tons de preto. Apesar disso, a Fiat acha que apenas 25% dos clientes a escolherão – o Vivace responderá por 35%, o Way 1.0, por 25% e o Way 1.4, por 15%.
A suspensão mais baixa e o escalonamento mais bem distribuído deixaram essa versão mais prazerosa de dirigir. Por falar nisso, não esperem comportamento de Gol nesse carro. A direção tem um bom peso e uma certa agilidade, mas com a conhecida prudência da marca. A Fiat garantiu que o Uno tem o melhor comportamento em curvas do segmento, inclinando menos que seus rivais. Infelizmente, não tivemos condições de ver o modelo nessa situação, mas a impressão é de uma suspensão mais firme que a do Palio, sem perder o conforto.
Também não é possível dizer algo a respeito dos freios. Todas as versões tinham ABS, item que será minoria nos carros de série, por enquanto.
Outro item incomum em compactos e que fazia parte de todos os carros de teste era o descanso de pé. Mas outros equipamentos faltaram. Não há espelhos retrovisores nem computador de bordo como opcional. Vidros traseiros elétricos também estão fora do catálogo. Na frente, como já se viu, os acionadores ficam no console central, como no Cinquecento. Embora prefira que eles estejam nas portas, a posição no Uno é a melhor nesse caso.
De maneira inteligente, a Fiat deslocou para o centro do carro os ajustes de inclinação e altura dos bancos. Em compensação, o compartimento esquecido foi o porta-malas. O estepe é mais alto que o encaixe da carroceria. Resultado: ele aparece embaixo do tapete e deforma a superfície do bagageiro. Para piorar, o triângulo não tem um lugar escondido para ficar e permanece “solto” no meio do porta-malas.
Vá de Attractive
Dentro de 45 dias teremos as versões 2 portas, que estavam expostas no evento, mas fechadas. Com elas, a Fiat terá uma linha bem completa já a partir de R$ 25 550 e fatalmente verá alguns modelos minguarem nas concessionárias. Nosso palpite é que o Palio Economy será a maior vítima interna do novo Uno. Custa parecido e oferece menos.
Já o Mille ainda é mais barato e deve sobreviver como o Gol G4, no aspecto confiabilidade. Mas vejam só, se comparado ao Uno Vivace, o Mille anda tanto quanto, embora acelere menos. O consumo de combustível do velho Uno é igual com gasolina e muito melhor com álcool. E são 65 kg a menos no peso.
O Vivace 1.0, aliás, consome tanto quanto o Attractive 1.4 com álcool, o espaço interno é praticamente o mesmo do Palio, tem as bitolas cerca de 5 cm mais largas que o Gol G4, mas é 3 cm mais estreito que o Gol G5. Como dissemos, o ponto fraco é o entre-eixos, 9 cm menor que o Gol de nova geração.
Já o Attractive pode enfrentar o Fox 1.0 e o Agile 1.4 em algumas situações. Está claro que ele não nasceu com essa missão, mas a versão tem preço mais em conta e anda mais que o compacto da Volkswagen e que o hatch da Chevrolet. E consome menos combustível em qualquer situação.
Mesmo no espaço interno, ele é competitivo, aspecto que os dois são excepcionais. A largura no banco traseiro é um pouco menor que o Fox, assim como o espaço vertical e longitudinal. Mas tem mais porta-malas que oVW.
Sem contar os clientes que se esforçarão para migrar para o Uno e têm o dinheiro contado, vale a pena mesmo investir um pouco mais e levar o Attractive e seu motor 1.4.
Chega de mesmice?
Apesar de tantos aspectos interessantes do carro, a Fiat se concentrou em outro ponto, a personalização do novo Uno. É nesse assunto que houve mais polêmica. Afinal, o comprador dessa faixa do mercado não é racional e pensa no seu bolso primeiro? Então, por que oferecer decalques, apliques e capas no painel para dar um ar pessoal no carro?
Ou a Fiat está sendo visionária e descobriu que o consumidor de carros baratos só é racional porque não tem chance de mostrar um pouco de emoção em seu carro ou, então, tudo isso não passa de marketing de lançamento, para evidenciar o modelo e suas cores berrantes.
Nosso palpite é pela segunda resposta. O novo Uno é mais que adesivos e a cor amarelo “marca texto”. É um projeto pensado para oferecer tecnologia, conforto e economia com um preço em conta – o mais barato lançamento de um carro realmente novo em muitos anos.
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