Meus amigos, sabe aquela sensação de frustração que nos acompanha quando conversamos sobre os “lançamentos” nacionais? Motores velhos, câmbios antiquados, projetos ultrapassados, campanhas de marketing ressaltando defeitos como virtudes. Pois bem, a sensação com os coreanos é oposta. A impressão é que eles estão nos ouvindo. A transmissão tem apenas quatro marchas numa geração? Na próxima já encontramos um novo câmbio de seis velocidades. O motor tem comando fixo? Pois o novo traz comando duplo com controle de entrada e escape das válvulas.
É assim que encontrei o novo Sorento, lançado esta semana pela Kia. O agora crossover é um veículo que atende aos desejos do consumidor. Alguns podem até achar esse texto tendencioso, mas convido a esses a conhecer o carro. E não só ele. O que Kia e Hyundai lançarem daqui para frente continuará sendo um banho de água fria na concorrência. Tudo bem, eles têm mesmo problemas com reposição de peças, com preço delas também, mas a Kia garante que isso vai mudar, que haverá uma política nacional de preços.
Vamos lá analisar o que a nova geração do crossover tem de bom: motor, como dissemos, tanto o Lambda II quanto o Theta II têm comando de válvulas variável tanto na admissão quanto no escape, o câmbio de seis marchas com opção sequencial apenas na alavanca, suspensão independente na frente e atrás, isolamento acústico primoroso, ar-condicionado digital de dupla zona e saídas em todas as fileiras, tração integral e teto solar panorâmico em algumas versões, freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD e 10 airbags, sendo dois frontais, dois laterais e seis de cortina.
Ou seja, o que de melhor se espera num carro desse porte. Mas, óbvio, nem tudo é perfeito. O acabamento é bom, mas há muito plástico sem nenhum tipo de camada emborrachada, por exemplo, e alguns encaixes “secos” de peças. O carro também não traz ajuste de profundidade do volante, porém, a posição é tão ergonômica que realmente você não sente falta dessa possibilidade.
Andamos na versão mais simples, de código S.253, que não tem a 3ª fileira de assentos nem teto solar. Mas entramos numa das versões mais caras para conferir o espaço dos dois bancos que ficam no porta-malas. Apesar do acesso pelo lado direito não ser ruim, viajar ali atrás continua um sofrimento em qualquer um desses modelos que transportam gente no bagageiro. A visão também atrapalhada pelas largas colunas, mas o ocupante conta ventilação e encostos de cabeça do tipo vírgula.
Suave e silencioso
Saímos para o test-drive e logo ficou claro que o Sorento foi pensado para o conforto. O silêncio a bordo é impressionante. O rodar da suspensão é macio, mas os amortecedores tem uma calibragem mais firme. Claro que o modelo inclina mais que um sedã nas curvas, mas passa uma sensação positiva de segurança.
O motor 2.4, no entanto, dá apenas conta do recado. É como um sedã médio 1.6, faz seu papel, mas se você quer uma reserva de potência e torque, melhor um 2.0. Aqui, no caso, o V6 de 278 cv. Já o câmbio é de um funcionamento invejável. Tem trocas suaves e um escalonamento que o deixa mais ágil até a 4ª marcha. Já as duas marchas finais servem apenas para velocidade de cruzeiro. A Kia, por outro lado, não permitiu liberdade de escolha para o motorista no modo sequencial. Tanto para cima como para baixo, o câmbio muda a marcha caso você não faça nada – não há como atingir a faixa de corte, por exemplo. E também não existe uma programação esportiva ou uma tecla S.
Em suma, um automóvel de porte grande que mesmo com as rodas aro 18 parece deslizar por onde passa. Pena que o custo para o bolso será meio grande. A média de consumo dos dois motores é alta: o 2.4 litros faz 8,5 km/l em média com gasolina e o V6, apenas 5 km/l.
Se a Kia souber vendê-lo, terá um produto de sucesso nas mãos. Para quem gosta de um carro confortável, alto, bem equipado e com um visual elegante e moderno (e sem exageros), o Sorento parece ler nossos pensamentos.
Ficha técnica – Kia Sorento EX .253