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Avaliação: Harley-Davidson Fat Boy Special: a melhor definição que você já viu para uma lenda

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

Eduardo Pincigher, especial para o BlogAuto – Difícil definir o que é necessário para construir lendas. Certamente você irá requerer algo maior do que “sucesso”. Acresça “personalidade” e “tradição”, o que, de forma simples, pode-se traduzir como “fuga dos modismos”. Seu produto terá de concentrar algumas idiossincrasias só suas, algo bem vintage, contrastando com modernidades tecnológicas ofertadas, espécie de comodities, pelos concorrentes. Terá de ser algo único. O apelo estético deve ser nostálgico, embora a funcionalidade tenha que se atualizar.

Quando você puder angariar todos esses ingredientes, possivelmente você terá feito de seu produto uma “lenda”. Outro modo mais imediato de testá-lo sob esse requisito é compará-lo a uma Harley Davidson. Icônico fabricante norte-americano de motocicletas, a HD dispensa apresentações.

Costumo dizer que pouquíssimas marcas (de qualquer produto) evocam tanta paixão, identidade e devoção de seus fãs a ponto de se eternizar em tatuagens. Você conhece alguém que tenha uma tattoo da Sony no braço? Ou da Chevrolet nas costas? Muito menos da Hugo Boss na panturrilha, não? Pois eu (e você, certamente) já vi dezenas de apaixonados que grafam o logo da Harley na própria pele.

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

Feita a comparação com uma Harley, portanto, vamos mais fundo, agora, nesse papo de lendas. Não basta mais ser uma lenda. Que tal se transformar em “a lenda”?

Senhoras e senhores, eu lhes apresento a Harley-Davidson Fat Boy, neste artigo apresentado sob a versão Special. Ela é A MOTO.

Já confessei neste espaço aqui, em outro artigo sobre motocicletas, que não tenho nenhuma empatia com modelos custom. Não fazem minha cabeça. Jamais teria uma moto desse segmento, justamente por preterir o conforto em favor do refinamento tecnológico e da ciclística. Tão simples como isso. Mas, sim, eu teria uma Fat Boy. Nem que fosse muito mais para agradar minha esposa, que adora esse estilo, e levá-la confortavelmente por algumas estradas por aí.

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

Nesta versão Special, a Fat Boy, simplesmente o modelo mais conhecido e afamado da Harley – ela é produzida praticamente com a mesma identidade visual desde 1990, quando estreou já com aparência retrô –, torna-se ainda mais convidativa. Negra, soturna, intimidadora, dotada das tradicionais rodas fundidas (de alumínio, pretas, claro), ela mantém os recursos técnicos e os adornos característicos de gerações passadas, como os amortecedores traseiros escondidos sob o para-lama, o painel por trás do farol em preto brilhante 2017, o velocímetro e o marcador de combustível cravados no tanque, aletas usinadas de refrigeração do motor, pneu traseiro de 200 mm de largura…

A lista de detalhes é interminável. E o mais incrível: se você conhecer um pouco da história da Fat Boy, nada será novidade! Tudo o que não é preto é delicadamente revestido de cromo acetinado, o que cria um conjunto belíssimo e garante uma personalidade irresistível. Ah, eu teria sim essa Fat Boy, viu…

Desde que Arnold Schwarzenegger estrelou o “Exterminador do Futuro -2” a bordo de uma Fat, logo após seu lançamento, a mítica estrela da Harley jamais abandonou outros tantos detalhes intocáveis. Talvez o mais icônico de todos eles seja a enorme sapata de acionamento do freio traseiro, protegida pela não menos imponente plataforma de descanso para o pé. Só a Harley mantém isso. É sensacional.

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

E como a atualização tecnológica deve ser embutida nas grandes lendas sem que o visual seja afetado, ela incorporou, por outro lado, uma porção de refinamentos tecnológicos que são somente sentidos, nunca observados! Na versão mais recente, atualizada em 2016, a moto recebeu um novo cilindro de freio que suavizou a força exercida sobre o manete. Ganhou, também, acelerador eletrônico, o que tornou as respostas mais progressivas do vigoroso motor de 1.690 cm3 e 103 cv de potência.

Tanto que, confesso, cheguei a acelerar além do que os usuários tradicionais o fariam numa rodovia. E não senti qualquer sensação incômoda. Ao contrário: ela acelera com maestria até ??? km/h (fica por conta de sua imaginação, OK?) de modo suave, liso. Confie em mim. Ela anda muito mais do que você vai precisar.

Na cidade, a Fat é surpreendentemente ligeira e fácil de ser conduzida, mesmo no trânsito pesado, em que você acaba usando os corredores. Por ter muito torque (12,2 kgfm a 3.500 rpm), ela requer poucas reduções de marchas nas frenagens/retomadas do tráfego. E como os controles são extremamente macios – pedal de marchas, manetes de embreagem e freio dianteiro, pedal de freio traseiro – ela se torna muito dócil de andar na cidade, apesar do porte avantajado e do peso absurdo (333 kg!!!).

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

Convém até relatar uma experiência bastante incomum que tive com essa Fat nos dias em que a conduzi por São Paulo. Anos atrás, ouvi uma expressão de um mestre na arte de avaliar carros e motos que nunca mais esqueci: “quando você está num carro antigo, o trânsito te recebe bem. As pessoas sorriem pra você no meio dos engarrafamentos”. É fato.

Pois senti a mesma coisa com a Fat Boy. Nunca havia vivenciado essa sensação a bordo de uma motocicleta. Todo mundo fica mais simpático quando te vê numa Harley. São os engravatados que morrem de inveja de você por não estarem gozando daquela sensação de liberdade; as crianças, que logo simpatizam com o ronco característico do V2; os vovôs, prenunciando que sabem exatamente o que você está pilotando; as mulheres, que parecem exclamar algo como “ah, se meu namorado/marido tivesse uma dessas, eu até andaria com ele”; até as marias-gasolina, claro, sem entrar muito no mérito.

Por tanta tradição, beleza, potência… a Harley Davidson Fat Boy Special não cobra barato, claro. Ela é cara. Mas eu diria que vale cada centavo, até por proporcionar ao proprietário uma experiência de condução inigualável em conforto e requinte. E lhe garante a sensação de sempre ter uma motocicleta atual, à medida que, pode apostar, ela continuará mantendo chega essa identidade por muito tempo – exceto se quiser deixar de ser uma lenda.

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

Pra dizer a verdade, eu ia até mencionar que senti falta de um único item nessa Special: o cruise control. Cheguei a questionar a própria Harley se ela não poderia ter esse recurso, lembrando que seu uso mais apropriado é aquela estradona em que você ajusta 80 ou 100 km/k, aciona o comando e esquece da vida… A resposta foi convincente: “outros modelos da linha Softail, a qual pertence a Fat Boy, até possuem o cruise control, como a Deluxe e a Heritage. Mas a Fat Boy é um dos modelos mais puristas da H-D. Entendemos que não caberia tanto”. Concordo. Não está no DNA dessa versão, mesmo.

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Essa Harley custa R$ 66.400. Como a linha 2018 estreará um motor ligeiramente maior – sai de cena o TwinCam 103 e estreia o 114 (polegadas cúbicas), ampliando a cilindrada para 1.870 cm3 – essa versão 2017 está sendo ofertada com descontos de R$ 4.500. Ora, continua sendo um valor alto. Mas repito: eu compraria. E nem esperaria pela versão 2018, até porque os cavalos de potência que virão a mais, acredite, só servirão para o seu ego. A moto, mesmo, não precisa.

Aliás, eu preciso de uma Fat Boy. Bora fazer umas economias…

Harley-Davidson Fat Boy Special 2017

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