Em matéria de avaliação de carros, acredito na máxima: “nem sempre a primeira impressão é a que fica”. Cansei de mudar de opinião tempos depois do lançamento, quando volto a avaliar um veículo com mais tempo. Isso porque os test-drives de lançamentos são muitas vezes curtos, confusos e atípicos.
Ora gostava do carro no lançamento e depois, conhecendo melhor, perdia a empolgação, ou o contrário. Um caso que não esqueço foi o Renault Mégane. No lançamento, achei o carro mole demais e sem graça. Num contato posterior, descobri as virtudes do modelo e passei a respeitá-lo, embora o considere inferior a Corolla e Civic, entre outros.
Mas com o Bravo a máxima não valeu: havia gostado do hatch na época do lançamento e agora confirmei isso. O hatch médio da Fiat é um dos melhores da categoria. Só o coloco atrás do i30 e do Focus, que têm um conjunto mecânico mais afinado.
Avaliamos a versão Essence, de entrada, que trazia alguns equipamentos opcionais com ar dual zone e rodas aro 17 que elevam o preço de R$ 56.300 para R$ 66.306, mas ignorando isso ainda sobra muita coisa interessante.
A principal é que o Bravo, ao contrário do antecessor, o Stilo, nasceu focado no que deve ser um hatch: um modelo com caráter esportivo e de condução prazerosa. Nada de mesinhas, teto solar em lâminas ou carroceria com estilo “minivan”. Não, o Bravo veste bem o motorista, tem posição de dirigir baixa, comandos ergonômicos e direção mais direta.
Para não decepcionar, o motor E.torQ 1.8 é um achado: oferece torque em rotações baixas, apesar de ser 16 válvulas, e faz bonito para quem só tem 132 cv. Só assustou pela manhã: até que a temperatura se estabilize, o carro quase morre em nossas mãos.
O câmbio manual da Fiat poderia ser melhor, é verdade, mas não chega a estragar a festa. A suspensão tem ajuste firme e agrada, embora não tenha a precisão da que equipa o Focus, por exemplo.
Se é largo, o Bravo só deixa a desejar em altura, sobretudo atrás – a janela traseira, aliás, é bastante estreita, mas, como dissemos, é um carro com apetite esportivo e não um familiar. Para completar, o acabamento é bem justo, com uso de materiais diferenciados em doses elegantes. Os bancos de couro, opcionais, aliás, são quase obrigatórios.
Injustiçado?
Outra máxima que acredito é que carro bom dá saudade na hora de devolver. Aconteceu com o Bravo. Já tinha me adaptado a ele, depois de poucos dias. Mas será crítica e público vão falar a mesma língua? Está aí o mistério.
A Fiat, com exceção do Tipo, sempre sofreu nesse segmento. O Brava era coadjuvante e o Stilo precisou de várias versões e novidades para manter uma posição intermediária. O Bravo começou devagar sua carreira, mas agora já emplaca um número mais respeitável: mil unidades em abril e deve chegar a 1.200 em maio.
Na Europa, o Bravo não fez sucesso a ponto de a Fiat pensar em abandonar o segmento na próxima geração – trocando-o por um crossover -, mas lá ele apanha do Golf VI e aqui enfrenta o clássico, mas defasado Golf 4,5. Talvez exista uma luz no fim do túnel.