Temos diversas maneiras de dividir nossos carros: por categorias, por vendas, por estilo, por público, mas existe uma outra forma que separa todos em apenas quatro grupos, os que podemos ou não e os queremos ou não ter. A situação ideal é a combinação poder e querer, claro. Por esse critério, os chineses continuam na situação podemos/não queremos.
Já é um grande passo, afinal nenhuma marca deseja ter um produto de preço proibitivo e que não tenha interessados. O Cielo, seu novo produto, flerta com o verbo “querer”, mas ainda precisa de mais vivência para ganhá-lo.
Em comparação com o Tiggo, lançado no ano passado, a evolução é nítida. O visual agrada, o interior tem boas soluções e nível de equipamentos, a combinação câmbio e motor está na média, mas persiste o problema de acabamento. E aqui não falamos apenas dos materiais de qualidade duvidosa em algumas peças, mas sim da falta de cuidado na finalização do modelo na linha de montagem.
Parece que a Chery não possui um setor de verificação após a saída da linha de produção. Ruídos em várias partes, parafusos aparentes, costuras mal acabadas, é uma série de pecados que numa linha de montagem japonesa ou alemã não passariam em branco.
Para piorar, os carros avaliados estão encardidos e exibem aquela despreocupação com o gosto do brasileiro – o tecido dos bancos num bege amarelado é de gosto duvidoso, por exemplo. Os coreanos passaram por isso e hoje deixaram de trazer carros coloridos ou com interior extravagante.
Outro mistério é entender o que os chineses consideram suspensão multilink ou de múltiplos braços. Confesso que quase deitei no chão para conferir o que o jornalista Bob Sharp havia alertado: o Cielo tem suspensão por braço de torção. Pois está lá a peça única que une ambas as rodas.
Certamente, a filial brasileira, antes de pensar em trazer mais carros para o Brasil, precisa urgentemente investir num setor de “nacionalização” e aqui não nos referimos ao trâmite normal ou às adaptações necessárias para rodar no país, e sim a evitar esse ar desleixado que seus carros exibem. Já seria um bom começo para tornar o Cielo um carro que mais gente queira porque o preço o torna possível de ser comprado.