A alcunha ‘carro de tiozão’ encarnou nos sedãs médios por muito tempo até que o New Civic rompeu esse muro em 2006. Com seu estilo esportivo e esguio, o sedã da Honda atraiu donos de hatches que antes torciam o nariz para esse tipo de carro, mais associado à gente de idade. Esse foi apenas o primeiro capítulo de uma história que culmina com o esvaziamento de segmento de hatches médios, aquele onde já brilharam no passado o Golf, o Astra e o i30.
Quis entender o que se passou nessa categoria após ver o esforço da Fiat em vender o Bravo, um carro bom, mas que nunca teve presença significativa nas vendas (você vai ver a avaliação do modelo 2016 aqui no BlogAuto, veja aqui). Afinal, o que aconteceu nesse período? Reproduzo abaixo um gráfico que ajuda a entender a situação.
A primeira coisa a notar é a sombra no fundo do gráfico. Ela representa as vendas acumuladas de todos os modelos desse tipo, exceto os premium como A3 e Série 1. Nota-se que o pico nos últimos sete anos ocorreu em 2010. Nesse ano, o i30 foi o líder com 35 mil emplacamentos, mas a GM foi quem mais vendeu esse tipo de modelo (linha vermelha), isso porque tinha o Vectra GT e o acessível Astra em seu portfólio.
E foram justamente esses dois que fizeram o mercado de hatches médios despencar em seguida. A GM aposentou o Astra e mesmo com a troca bem sucedida do apagado Vectra GT pelo Cruze hatch, nunca mais voltou a emplacar tanto quanto em 2010. A outra parcela de culpa é do governo brasileiro, que em 2011 decidiu taxar os importados com 30 pontos extras de IPI. Aí o i30 não aguentou e desapareceu do mercado (linha marrom).
Então é isso? Não, tem mais. Se fossem apenas esses dois fatores, o Focus, que é acessível, moderno e feito no Mercosul, estaria vendendo horrores. Mas não foi o que aconteceu. Mesmo líder, ele vende pouco mais de 20 mil carros por ano. E nem a queda geral das vendas explica isso porque enquanto o mercado caiu 7% em 2014 os hatches médios despencaram 19%. Não é à toa que a Citroën decidiu abandonar a categoria ao aposentar precocemente o C4 hatch.
Segmento espremido
O grande drama dos hatches médios é que o automóvel de ‘porte médio’ em si sofre pressão por cima e por baixo. Como o governo estimula a venda de carros com motores menores, os compactos cresceram em equipamentos e alguns até em tamanho, mas com uma base simples. Muita gente acaba ficando com um Sandero equipado do que optando por um Peugeot 308 com preço quase similar. Na outra ponta, os carros de luxo das alemãs têm encostado nas versões top dos médios e acabam tirando uma casquinha deles – difícil ignorar um A3 Sedan ou um Série 3 e comprar um Corolla Altis.
Para piorar a situação, além dos sedãs com ares esportivos – o próprio Corolla já deixou o ‘suéter’ em casa – há os tão falados SUVs. Sim, eles viraram objeto de desejo, como se sabe e são mais versáteis no papel de carro para uso no dia a dia e também no fim de semana.
Então, os hatches médios terão o mesmo fim das peruas, que quase desapareceram do mercado? Eu não acredito. Ainda falamos de 70 mil carros por ano e a perspectiva de novidades como o Focus III reestilizado e o Golf VII nacional, que podem e devem crescer nas vendas este ano. Mas só uma coisa os faria voltar aos velhos tempos: preço mais em conta. O exemplo do Astra é claro: cobrando menos por um produto superior, é impossível que o consumidor ignore o fato. Mas não dá para esperar nada com hatches custando acima de R$ 60 mil.