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Anfavea se diz “vítima” do aumento do IPI e nega que medida beneficiou suas associadas

Cledorvino Belini, presidente da Fiat e da Anfavea

Pena, gostaria de ter visto a coletiva que a Anfavea convocou nesta segunda-feira, 19, para se defender da acusação de vilã da história do aumento injustificado do IPI para carros importados. Mas o que me relataram colegas que estiveram lá é que o presidente da entidade, Cledorvino Belini, também chefão da Fiat, e Rogelio Golfarb, executivo da Ford, é que ambos defenderam a medida do governo como nunca.

Assim mesmo posaram de vítimas, dizendo que também sofrerão com o aumento do imposto: “o Edge vai ter aumento de IPI”, lembrou Golfarb. O crossover é feito no Canadá e está fora do benefício concedido aos veículos importados no regime que dispensa o imposto de importação, ou seja, México e Argentina. Como se a queda nas vendas do Edge fosse mudar a vida da montadora americana.

Belini também se alterou ao exigir que a imprensa entenda que o aumento vai incentivar a indústria nacional, mas ele convenientemente se esquece que não há empresa alguma brasileira nesse setor, apenas multinacionais que “exportam” seus lucros para suas matrizes. A justificativa do presidente da Anfavea para o governo ter optado pela estratégia de barrar os importados foi que a balança comercial estava francamente desfavorável ao Brasil.

Situação confortável

A estratégia bolada pelo governo federal e a Anfavea foi esperta: usar como pretexto “a produção nacional”, “empregos” e o “desenvolvimento do país”, bandeiras justas, mas que serviram como embuste para perpetuar uma situação que é hoje extremamente confortável para ambos. Enquanto as montadoras instaladas aqui se especializam em produzir modelos simplórios em grande escala, o governo arrecada altas somas com uma das cargas tributárias mais altas do mundo.

Qualquer estudante de economia do primeiro ano de curso sabe que o único caminho para enfrentar a concorrência externa é estimular a produção local com menos impostos e com investimento em infraestrutura para baratear os custos. Se tivesse optado pelo caminho mais árduo, porém, de resultados práticos a médio prazo, o Brasil poderia não só ampliar a produção como também modernizar o parque fabril, permitir que modelos mais caros fossem feitos aqui e, no final das contas, exportar veículos. De quebra, poderíamos acabar com a distorção dos carros populares que, obrigados por lei, oferecem motores 1.0 litro nem tão econômicos assim.

Mas, estranhamente, a equipe econômica de Dilma prefere tratar as multinacionais instaladas aqui há mais tempo como empresas genuinamente nacionais, essas sim que poderiam argumentar algum tipo de vantagem para competir com as coreanas ou chinesas, apoiadas por seus respectivos governos.

A Abeiva, entidade que reúne os importadores ditos independentes, diz que irá entrar na justiça mas, convenhamos, eles pouco podem fazer. A associação existe há anos e nunca conseguiu reduzir 0,0001% do imposto de importação. A solução vem do consumidor, que deveria sim postergar a compra do carro novo se quiser um dia deixar de pagar o preço abusivo hoje cobrado por todas as marcas. É no bolso de montadoras e governo que está a resposta para essa atitude covarde perante o brasileiro. Se eles mantiverem o caixa cheio como agora continuarão com os ouvidos tapados para seus clientes e cidadãos pagadores de impostos.

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