Estou gostando de ver: a história do suposto “Lucro Brasil” e toda polêmica gerada sobre o alto preço cobrado pelos carros no Brasil tem colocado o assunto em alta na mídia. Ótimo, é justamente essa a melhor coisa que poderia acontecer. Assim pelo menos o consumidor saberá que ao comprar um automóvel no Brasil paga valores que chegam ao dobro em outros países.O que continua um mistério é por que o carro é tão caro. A discussão entre os jornalistas Joel Leite e Fernando Calmon teve mais um capítulo em que o segundo voltou a justificar seu ponto de vista, apesar de milhares de comentários negativos, inclusive o acusando de ser porta-voz informal das montadoras. Por outro lado, soubemos que há um zum-zum-zum do lado dos fabricantes insinuando que Joel teria sido “comprado” pelas marcas chinesas.
Curioso é que não dá pra chegar e dizer que um tem 100% de razão. Claro que o preço do carro ser alto no Brasil tem inúmeros motivos, só não sabemos em qual proporção eles têm culpa nessa história. É isso que como consumidor – e não jornalista – adoraria saber.
Continuo lendo algumas reportagens e não sabendo qual a real margem de lucro das marcas, qual é a influência dos impostos, do frete, do aço ou mesmo da água, como diz Calmon na sua coluna. Também gostaria de entender por que mesmo assim os carros importados aqui custam bem mais que lá fora se eles não têm essas desvantagens. O colunista do UOL, aliás, cita um estudo de 2007 que diz que um carro importado que chegue aqui com um FOB (preço do modelo quando chega ao porto, com margem de lucro, mas sem impostos e outros custos) de 10.000 dólares custaria na ponta da tabela 30.000 dólares.
Por essa lógica, o JAC J3 hatch teria um preço de R$ 32.500 já que, segundo a coluna do jornalista Pedro Kutney, possui FOB de 7.100 dólares. Multiplicado por 285% (valor do estudo), o preço do J3 chegaria a 20.250 dólares ou R$ 32.400 com um dólar de R$ 1,60 – mas o carro custa R$ 37.990.
Linea cada vez mais barato
Como se vê, uma bela margem de R$ 5.500 para se trabalhar numa promoção. Outro mistério para mim – e aqui não tem um pingo de ironia – é saber por que as montadoras têm arcado com o aumento dos seus custos nesses últimos anos sem repassar isso para o preço de alguns carros. Vejam o caso do sedã Linea, da Fiat:
Ele foi lançado no final de 2008 com preço de R$ 68.890 na versão Absolute Dualogic. Em 2009, a Fiat reduziu seu preço na linha 2010 para R$ 64.850, desconto de 5,9%. O problema é que a inflação do período medida pelo IPCA foi de justamente 5,9% mas para cima. Ou seja, o Linea Absolute deveria custar R$ 72.954. Sim, nesse período houve o desconto do IPI e a montadora pôde evitar esse repasse, dirão os mais antenados.
Em 2010, com o fim do benefício, o preço do Absolute voltou a subir: passou a custar R$ 67.030 na linha 2011, aumento de 3,4%, no entanto, abaixo da inflação, de 4,3% na época e sem acumular a inflação do ano anterior já que o IPI havia voltado na íntegra.
Pois bem, neste ano, o Linea 2012 dessa mesma versão custa R$ 67.570, apenas 0,8% a mais que o 2011, mas, caso a Fiat decidisse repassar a inflação para o preço (a tal correção monetária), o Absolute Dualogic custaria R$ 80.596, R$ 13 mil a mais que o preço sugerido atual. Uma perda de 16% na margem de lucro da montadora. E isso porque falamos de inflação para o consumidor sem saber quanto aumentaram os insumos para produção.
É importante lembrar que o Linea nunca fez grande sucesso, o que exigiu que a Fiat promovesse o modelo, mas e quanto aos carros que estão no mercado, que vendem bem como o Corolla e que mantêm seus preços lá em cima? E quem pagou R$ 68.890 pelo Linea em 2008 deveria reclamar seu dinheiro de volta?