Nunca deixei de acreditar que o mercado de automóveis no Brasil um dia evoluiria, mas confesso que o caminho foi diferente do que imaginei. Achava que o consumidor, aos poucos, migraria para modelos maiores e mais sofisticados. Ou seja, seria mais exigente e endinheirado, é claro. Também sonhei que o governo, vendo isso, baixaria os impostos e estimularia a produção de carros eficientes e não só pequenos.
Pois bem, errei. O mercado está mudando, mas os modelos médios – compactos lá fora- estão num mato sem cachorro. De um lado estão vendo os carros ‘premium’ tirar casquinha de sua clientela e, de outro, veêm modelos pequenos e básicos virarem carros sarados e cheios de equipamentos.
Dentro dessa linha está o Nissan New March. O hatch da marca japonesa é o que podemos chamar de ‘carro global’. Ele é produzido no México, e agora também é feito no Brasil. O visual foi determinado em conjunto com os alemães. E, por aqui, a Nissan está cheia de executivos franceses, da irmã Renault. Também, numa empresa em que o presidente é um tantinho brasileiro, francês e libanês – e com uma filosofia japonesa – faz sentido.
Pois bem, o March foi um dos carros que resolveu assassinar a tese dos modelos ‘pés-de-boi’, aquela que prega que carro popular tem que ser ‘arroz com feijão’, com espírito de jipe lameiro, capaz de funcionar até sem óleo lubrificante. Vidro elétrico? Isso é coisa de coxinha…Não mais. O brasileiro, enfim, deixou esse mantra de lado e quer agora carro com conteúdo, mesmo pequeno e com acabamento abaixo do desejado.
Quando chegou ao Brasil, no final de 2011, o March já quebrava o tal ‘paradigma’ ao oferecer direção com assistência elétrica e por um preço competitivo. Vendeu horrores e provou também que esse negócio da ‘marca precisar se consolidar’ é balela: quando o preço é bom, o cliente até se arrisca um pouco.
Mas a Nissan chamou a atenção do governo, assim como a JAC o fez, e não tardou para que arrumassem um jeito de fechar a torneira mexicana que despejava mais 5 mil unidades do March por mês, ao limitar esse fluxo com cotas de importação.
O problema é que a fábrica brasileira da Nissan, em Resende, demorou a ficar pronta e só em abril do ano passado o March pôde voltar a lutar em igualdade de condições. Mas aí meia dúzia de concorrentes chegaram e acabaram com o ar de novidade do carrinho japonês.
Feito no Brasil, o March emplaca menos que o Etios, execrado nacionalmente pela falta de atrativos buscados pelo brasileiro. Por isso, saber que agora o hatch passa a contar com motor 1.0 de 3 cilindros faz a Nissan voltar a ter mais argumentos para lutar nessa guerra.
O tal Nissan New March, versão que ganhou visual mais atraente e interior um pouco mais agradável – além de vários itens – é que teve o privilégio de estrear o motor HR10, derivado do HR12 europeu (1.2 litro). A receita é a mesma de Volks, Ford e Hyundai-Kia: motor mais leve, comando variável e bloco e cabeçote de alumínio (esses não presentes no Ka). O ganho de potência foi de 3 cv, mas o torque permaneceu o mesmo, de 10 kgfm. A vantagem veio no consumo, que agora beira o do up! e do Ka, os mais eficientes do mercado.
Numa conta simples, em que uma pessoa rode 24 mil km por ano (2 mil por mês) sendo 60% na cidade, o dono do March 1.0 gastaria teóricos R$ 5,3 mil de gasolina (o gasto com etanol é levemente maior). Pegue-se o Palio 1.0 Attractive, que ocupa a posição mais baixa entre os populares no Inmetro, e temos cerca R$ 900 de economia em um ano. Nada mal, não?
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Sim, o March não enche os olhos como um Onix ou Ka. Também não tem o espaço interno de um Sandero, muito menos o esmero nos detalhes de um HB20, mas é um carro bastante honesto e com bons itens de série. E, de quebra, não esvazia nossos bolsos no posto. Mas ainda preferia meu sonho de ver a gente escolhendo entre Golf, Focus, i30 e, por que não, o Pulsar, o hatch médio que a Nissan vende na Europa.
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